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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #19 (António Guerreiro)

«Onde fica Max Weber, na ética do capitalismo?

Max Weber tem andado nas últimas semanas bem cotado na bolsa: a insistente reclamação de uma “ética do capitalismo” alude implicitamente a esse célebre estudo de 1905 onde o sociólogo alemão desenvolve a teoria das relações entre o “ideal-tipo” do ascetismo protestante e o “espírito do capitalismo”. Mas a obra de Weber é pouco compatível com as actuais reclamações de uma “ética do capitalismo”. Na sua reconstrução histórica do processo de secularização, Weber define aquilo a que chama de “paradoxo da racionalização”, segundo o qual, no auge do capitalismo, a liberdade individual e o processo de autonomização se transformam em destino de “ausência de liberdade”.

Nesta fase do capitalismo, marcada por uma “crescente racionalização do domínio do mundo”, ter-se-ia dado, diz ele, “a evaporação do espírito”. A partir desta antinomia (a liberdade negada pela racionalidade), Weber vai ao ponto de perguntar se a democracia e a liberdade são possíveis, a longo termo, sob o domínio do capitalismo tardio. E, à “tradição democrática transmitida pelo puritanismo protestante”, opõe a “fisionomia autoritária do capitalismo americano”. Ética do capitalismo? Só esquecendo Max Weber.»

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual
, 11.10.2008.

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