Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #18 (António Guerreiro)

«Desempenhar um papel é a lógica do discurso político

Barthes, que tinha um requintado sentido da fórmula, escreveu algures: “A estupidez é a euforia do lugar”. Queria ele dizer que é estúpido o discurso que se fixa nas suas certezas e se instala num lugar obtuso, sem vacilações nem recuos. Esta é hoje a regra do discurso político, reduzido que foi a uma fraseologia no interior do qual deixou de ser possível pensar. Como uma mão invisível, algo de tão coercivo se instalou que os próprios políticos, mal se retiram ou conquistam o exterior,
sentem a necessidade de mostrar que tinham sido forçados a “representar” um papel pouco interessante e a entrar num“jogo de linguagem” em que, no fundo, não acreditam. O último a reivindicar distância crítica relativamente à “pobreza do debate político” e a exigir um suplemento de complexidade intelectual foi Marques Mendes. O problema é que este jogo de representações, que fixa os papéis a desempenhar e codifica os respectivos discursos, estendeu-se aos analistas políticos. Um caso paradigmático é o de Marcelo Rebelo de Sousa que, no seu exercício semanal de “overacting”, representa o papel do louco que não apenas se toma por Professor como, muito mais grave do que isso, se toma por Marcelo Rebelo de Sousa.»
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 4.10.2008.

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