«Ao problema da génese dos nomes divinos dedicou uma monografia o grande filólogo – e, a seu modo, teólogo – Hermann Usener e é significativo que desde a data daquela publicação (1896) não se tenham dado contributos igualmente relevantes para a questão. Reflecte-se sobre a então célebre reconstrução da formação dos nomes daqueles núcleos germinais das divindades que Usener chama “deuses especiais” (Sondergötter). Tratam-se de divindades acerca das quais nem as fontes literárias nem as artísticas dizem coisa alguma, e que foram notadas apenas nas citações dos indigitamenta, os livros litúrgicos dos pontífices que continham o elenco dos nomes divinos a pronunciar nas circunstâncias cultuais apropriadas. Os Sondergötter fizeram-se notar, então, apenas através dos seus nomes e, a julgar pelo silêncio das fontes, viviam apenas no seu nome, cada vez que o sacerdote os invocava ritualmente (indigitabat). Até uma competência etimológica elementar permite reconstruir o sentido destes nomes e a função dos “deuses especiais” que esses nomeavam: Vervactor refere-se ao primeiro cavar do pousio (vervactum); Reparator ao segundo lavrar; Inporcitor ao último lavrar que traça as porcae, ou seja, os relevos da terra entre sulco e sulco; Occator ao trabalhar da terra com a grade (occa); Subruncinator à extracção das ervas com o sacho (runco); Messor à operação de colher (messis); Sterculinius ao fertilizar com o esterco. “Para cada actividade e situação que podia ser importante para os homens de então – escreve Usener – eram criados e nomeados com um apropriado cunho verbal [Wortprägung] deuses especiais: deste modo, não apenas se tornavam divinizadas actividades e situações na sua integralidade, mas também partes, actos singulares e momentos das mesmas”. Usener mostra que mesmo divindades que entraram na mitologia, como Proserpina e Pomona, eram originalmente “divindades especiais” que nomeavam respectivamente o despontar dos rebentos (prosero) e o amadurecer dos frutos (poma): todos os nomes dos deuses – esta é, aliás, a tese do livro – são de início nomes de acções ou eventos momentâneos, Sondergötter que, através de um lento processo histórico-linguístico, perdem a sua relação com o vocabulário vivo e, devindo pouco a pouco ininteligíveis, transformam-se em nomes próprios. Neste momento, quando por fim se ligou estavelmente a um nome próprio, “o conceito divino [Gotesbegriff] adquire a capacidade de receber uma forma pessoal através do mito e do culto, da poesia e da arte.” Mas isto significa que, como é evidente nos Sondergötter, no seu núcleo originário o deus que preside à actividade singular e à situação singular não é outro que o próprio nome da actividade e da situação. Divinizado, no Sondergött, está, assim, o próprio evento do nome; a própria nomeação, que isola e torna reconhecível um gesto, um acto, uma coisa, cria um “deus especial”, é uma “divindade momentânea” (Augenblicksgott). O nomen é imediatamente numen e o numen imediatamente nomen.»
| «Al problema della genesi dei nomi divini ha dedicato una monografia il grande filologo – e, a suo modo, teologo – Hermann Usener ed è significativo che dalla data di quella pubblicazione (1896) non ci siano stati contributi altrettanto rilevanti alla questione. Si rifletta sulla ormai celebre ricostruzione della formazione dei nomi di quei nuclei germinali della divinità che Usener chiama “dèi speciali” (Sondergötter). Si tratta di divinità di cui né le fonti letterarie né quelle artistiche ci dicono nulla, e che ci sono note solo da citazioni dagli indigitamenta, i libri liturgici dei pontefici che contenevano l’elenco dei nome divini da pronunciare nelle circostanze cultuali appropriate. I Sondergötter ci sono, cioè, noti solo attraverso il loro nome e, a giudicare dal silenzio delle fonti, vivevano solo nel loro nome, ogni volta che il sacerdote li invocava ritualmente (indigitabat). Anche una elementare competenza etimologica permette di ricostruire il senso di questi nomi e la funzione degli “dèi speciali” che essi nominavano: Vervactor si riferisce al primo dissodamento del maggese (vervactum); Reparator alla seconda aratura; Inporcitor all’ultima aratura che traccia le porcae, cioè i rialzi di terra fra solco e solco; Occator alla lavorazione della terra con l’erpice (occa); Subruncinator all’estirpazione delle erbacce col sarchiello (runco); Messor all’operazione del mietere (messis); Sterculinius alla concimazione con lo sterco. “Per ciascuna attività e situazione che poteva essere importante per gli uomini di allora – scrive Usener – venivamo creati e nominati con una apposita coniazione verbale [Wortprägung] degli dèi speciali: in questo modo, non soltanto venivano divinizzate attività e situazioni nella loro integrità, ma anche parti, singoli atti e momenti delle stesse” (p. 75). Usener mostra che anche divinità che sono entrate nella mitologia, come Proserpina e Pomona, erano in origine “divinità speciali” che nominavano rispettivamente lo spuntare dei germogli (prosero) e il maturare dei frutti (poma): tutti i nomi degli dèi – questa è, anzi, la tesi del libro – sono all’inizio nomi di azioni o eventi momentanei, Sondergötter che, attraverso un lento processo storico-linguistico, perdono la loro relazione col vocabolario vivo e, diventando a poco a poco inintelligibili, si trasformano in nomi propri. A questo punto, quando si è ormai stabilmente legato a un nome proprio, “il concetto divino [Gotesbegriff] acquista la capacità di ricevere una forma personale attraverso il mito e il culto, la poesia e l’arte” (ivi, p. 316). Ma ciò significa che, come è evidente nei Sondergötter, nel suo nucleo originario il dio che presiede alla singola attività e alla singola situazione non è altro che il nome stesso dell’attività e della situazione. Divinizzato, nel Sondergött, è, cioè, l’evento stesso del nome; la stessa nominazione, che isola e rende riconoscibile un gesto, un atto, una cosa, crea un “dio speciale”, è una “divinità momentanea” (Augenblicksgott). Il nomen è immediatamente numen e il numen immediatamente nomen.»
Giorgio Agamben, Il sacramento del linguaggio. Archeologia del giuramento, Laterza, Bari, 2008, pp. 61-63.
tradução dedicada a Rita Benis
[tenho a intuição que Straub e Huillet — desde logo Pavese — sabiam bem isto quando fizeram DALLA NUBE...] |