Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Raros filmes de Junho


The French connection
William Friedkin

1971, 104’
Eram os Anos 70
(prog. Antonio Rodrigues) 
2ª, dia 1, 19h
Cinemateca*, Lisboa
 

La ciénaga / O pântano
Lucrécia Martel

2002, 103’
3ª, dia 2, 19h30 – Cinemateca
 

Liverpool
Lisandro Alonso
2008, 85’
3ª, dia 2, 21h30 – Cinemateca


Blue velvet
David Lynch
1986, 120’
6ª, dia 5, 21h30 – Cinemateca
 

The searchers /
A desaparecida
John Ford
1956, 120’
3ª, dia 9, 15h30 – Cinemateca


La chambre verte
François Truffaut
1978, 95’
Eram os Anos 70
2ª, dia 15, 21h30 – Cinemateca


The last picture show
Peter Bogdanovich
1971, 115’
Eram os Anos 70
5ª, dia 18, 21h30 – Cinemateca
 

White heat
Raoul Walsh
1949, 114’
4ª, dia 24, 15h30 – Cinemateca
 

Alice in den Städten /
Alice nas cidades
Wim Wenders
1973, 115’
Eram os Anos 70
4ª, dia 24, 19h30 – Cinemateca
 

Annie Hall 
Woody Allen

1977, 93’
Eram os Anos 70
2ª, dia 29, 19h – Cinemateca



L'origine du XXIème siècle
Jean-Luc Godard

2000, 13’
O cinema no museu
2ª, dia 29, 21h30 – Cinemateca
+ 5ª, dia 2 Julho, 22h


La vie est un roman
Alain Resnais
1983, 110’
3ª, dia 30, 15h30 – Cinemateca
 

Cézanne
1989, 50’
Une visite au Louvre
2004, 95’
Jean-Marie Straub e
Danièle Huillet
O cinema no museu
3ª, dia 30, 22h – Cinemateca
+ 6ª, dia 3 Julho, 22h

[apenas filmes vistos, sem repetições, em formatos originais]

«Many years ago I remember seeing a documentary on Ingmar Bergman where he was asked to give his definition of a film director. He replied that the best definition he had ever heard had come from an ‛anonymous’ filmmaker who stated, “A film director is someone who can not think because of all his problems.”»

«Pero yo sostengo que los directores de cinematecas, cuando mueren, consiguen ver las películas perdidas, mutiladas o que no llegaron a hacerse. Estará viendo algunos Sternberg, unos cuantos Murnau, el primer montaje de los “Ambersons”… »
Miguel Marías sobre João Bénard da Costa

Ao pé da letra #49 (António Guerreiro)
«Há um populismo literário que se instalou na edição

O populismo político, nas suas manifestações ora mais discretas ora mais exacerbadas, é um fenómeno com mais de um século. Mais recentemente é um populismo literário do qual uma edição recente de Amor de Perdição (Difel) é um exemplo caricato. Da imagem da capa, que parece o cartaz de um filme de série B, até à inscrição que apresenta o livro como “uma história de amor, profunda e trágica. Um drama inesquecível”, tudo é feito para denegar ao livro a sua condição de clássico da literatura portuguesa e aproximá-lo do modelo da telenovela, de modo a torná-lo produto de consumo para um público mais vasto.
O pressuposto da ignorância e do mau gosto do público adquire aqui uma dimensão grosseira, mas o mais importante é aquilo de que é sintoma: do declínio da “esfera pública literária” – uma noção de Habermas para designar o uso público de uma razão baseada nos instrumentos da leitura. O público cindiu-se, por um lado, em minorias de especialistas que já não têm acesso à esfera pública (o espaço que antes ocupavam foi tomado pela “opinião”) e, por outro, na grande massa de consumidores de uma cultura que não promove a saída do estado de menoridade.»
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 30.5.2009.

Adrian Martin sobre o cinema e as instalações em The view from elsewhere (audio).

Eram os Anos 70
Ciclo da Cinemateca Portuguesa, Maio/Setembro 2009
«Em 2008, a Cinemateca Portuguesa‐Museu do Cinema organizou um vasto Ciclo dedicado aos anos 60 (“Eram os anos 60”), que foi acompanhado pela publicação de uma brochura. Em 2009, dedicamos um Ciclo semelhante aos anos 70. A partir de Maio, organizaremos um Ciclo de sessenta filmes, dividido em diversos capítulos, obedecendo ao princípio de um filme por realizador: A “Nova Hollywood”; Autores Europeus; Autores Americanos; Portugal; Autores do Cinema Mundial; Cinema Popular; À Margem; Documentários. Coppola, De Niro, Spielberg, Visconti, Fellini, Antonioni, Fassbinder, Rohmer, Altman, Straub‐Huillet, Bergman, Panfilov, Eustache, Lino Brocka, Sembene, Kiarostami, Syberberg e Arrabal serão alguns dos realizadores representados, ao lado de filmes de artes marciais, de horror, de rock, de alguns documentários emblemáticos e de alguns exemplos do que se fez em Portugal, que foi sem dúvida um dos países que mais mudou naquele decénio.
Se os anos 60 marcaram um período de estiagem em Hollywood, cujo cinema estava em completa desfasagem com as mudanças que ocorriam no mundo, os anos 70 marcaram a recomposição e o ataque em força de Hollywood, através do que se chamou a “Nova Hollywood”: filmes feitos por cineastas jovens, conscientes das mudanças culturais que tinham ocorrido e capazes de trabalhar num sistema diferente do antigo sistema dos estúdios. Por outro lado, na Europa, enquanto mestres consagrados chegavam à plena maturidade e ao reconhecimento público, havia espaço para aventuras formais radicais, de que são exemplos os filmes de Rivette, Eustache ou Schroeter. E na Ásia, na América Latina e em África, “autores” e entertainers estavam activos. Em “Eram os Anos 70”, os filmes não serão apresentados em ordem cronológica, mas pelos diversos “capítulos” que estruturam o Ciclo. Para oferecer maior variedade aos espectadores, os diversos capítulos serão entremeados no decorrer do ciclo.»

Antonio Rodrigues, programador
«Acompanhando a retrospectiva alusiva ao cinema da década de 70, programada em 60 filmes e oito capítulos nos meses de Maio, Junho, Julho e Setembro, a Cinemateca editou um catálogo "Eram os Anos 70" com organização literária de Antonio Rodrigues e concepção gráfica de Luís Miguel Castro.
A edição, que contempla uma cronologia desses anos e a lista dos filmes programados, conta com textos originais de Antonio Rodrigues ("E Quase Tudo o Tubarão Levou", "O Itinerário de Um Decénio-Serge Daney") e André Dias ("O Período Cor de Rosa") bem como com a publicação de "Uma Conversa Inacabada com João Botelho" por Alexandre Obrenovich e a tradução portuguesa de "Artes Marciais-Modo de Usar" por Olivier Assayas e Charles Tesson.»
O período cor-de-rosa
André Dias
O cinema “moderno”, uma provocação sem objecto e um luto sem fim.
Serge Daney, 1982

1. Uma particular cinefilia não se dá indiferente aos acidentes que a perturbam. Procura, para lá da apetência por determinados filmes, traços que a singularizem, que a justifiquem como anomalia que é. E, ao longo dos anos fechados, certas coincidências acabam por revelar-se significativas. Por exemplo, ter-se dado o caso de descobrir alguns filmes, tornados depois entre os preferidos, em condições estranhas, nada ideais; em concreto, em cópias manchadas de um tom rosa, mais propriamente, num quase insuportável magenta. Assim nos chegaram, lembramos: OTHON (1970) de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, MILESTONES (1975) de Robert Kramer, SON NOM DE VENISE DANS CALCUTTA DÉSERTE (1976) de Marguerite Duras, JEANNE DIELMAN (1975) de Chantal Akerman, PROVIDENCE (1977) de Alain Resnais, entre outros. Depois deparamo-nos com fotografias de cena ou fotogramas reproduzidos, e não lhes reconhecemos a cor. Eram, no entanto, aqueles os filmes vistos. Algo na nossa experiência de espectador tinha ultrapassado a circunstância nefasta, negligenciando-a. Uma força tinha atravessado a cor, os filmes ainda vivos acercando-se a nós...
As “cópias cor-de-rosa” são um fenómeno explicável historicamente pela substituição progressiva, a partir dos anos 50 e por razões de simplicidade e economia, do sistema Technicolor pelo Eastmancolor. A instabilidade química intrínseca das emulsões positivas do novo sistema manifestava-se frequentemente no rápido desvanecimento da cor, com a particularidade de ser a resistente camada magenta a última a perder densidade. O problema começa com uma dominante castanha nas sombras, perca de contraste, o céus azuis ficam brancos, tudo tende a uma tonalidade vermelha...

No final, resta apenas um inundante rosa que banha o filme por completo. Esta limitação tecnológica terá sido aparentemente corrigida ou atenuada no início dos 80 ; no entanto, para um cinéfilo pouco conhecedor de detalhes químicos e históricos, o mal já estava feito. A coincidência temporal e a afinidade estilística daqueles filmes cedo deu azo a uma interpretação paranóica, que incluía especulações delirantes sobre o menosprezo de um certo tipo de cinema por parte dos poderes da preservação, etc. E, na verdade, que melhor estatuto de menoridade haverá, para um cinema relativamente contemporâneo, do que a dificuldade em encontrar cópias novas e em condições?
Esta degradação cromática, à qual nos apegámos, parece ser o mote descritivo adequado para um certo cinema. Um “período cor-de-rosa” da história do cinema, assim tão inabilmente concebido, na soberba de partir exclusivamente de um acidente da experiência de espectador, e negligenciando obviamente a incongruência da inclusão dos filmes a preto e branco ou dos que não foram vistos nesse estado, decorre antes de mais da seguinte afirmação: é unicamente no interior dessa experiência de espectador que se pode fundar toda e qualquer “ciência” ou, mais modestamente, ter pensamentos perante o cinema. Tal tentativa de periodização é também, e sobretudo, um gesto conscientemente desesperado de recuperação da parcela mais desprezada da história do cinema; uma parcela transversal e rarefeita, pequenos pontos verdadeiramente excêntricos e extremados no mar avassalador da indiferente produção...
(continua)
in [catálogo do ciclo] Eram os Anos 70, org. Antonio Rodrigues,
Cinemateca Portuguesa, Lisboa, 2009, pp. 90-115.

Ao pé da letra #48 (António Guerreiro)

«A estratégia do crítico literário em três pontos

Walter Benjamin definiu o crítico literário nestes termos: “O crítico é um estratega no combate literário”. Esta definição não precisa de assentimento teórico, confirma-se empiricamente. Eis alguns princípios estratégicos: 1) nunca insistir na crítica desfavorável a um autor: tal, será entendido como uma perseguição. O risco é ainda maior quando se trata de um autor consagrado: a importância do alvo estimula as conjecturas que procuram razões pérfidas e ocultas (lado negativo da estratégia: ao fim de algum tempo, o crítico tem uma lista de nomes sobre os quais tem de guardar silêncio).
 


2) Nunca perder a oportunidade, quando ela se oferece, de elogiar o novo livro de um autor que antes tinha merecido um juízo crítico negativo. Se se tinha criado uma inimizade com entre o autor e o crítico, tanto melhor: é improvável que se restabeleça a concórdia, mas esvazia-se o lado primário do conflito (perigo associado: retirar tanto prazer deste exercício que ele passa a ser uma secreta perversidade); 3) nunca fazer intervalos que convidem a mudar de escala: dois meses fora da actividade é suficiente para o crítico relativizar de tal modo o que fazia antes que já não consegue voltar a representar o seu papel com verosimilhança.»
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 23.5.2009.


«Assim que alguém se apercebe que escrevi sobre cinema começo imediatamente a receber uma lição sobre o que é o cinema. Há algo no cinema que torna insuportável às pessoas não se considerarem elas próprias especialistas nele. Numa destas noites, numa recepção, disseram-me: “É importante definir o que o cinema pode fazer que mais nenhuma arte pode”. Eu disse que concordava. O meu informador continuou: “O cinema é visual”. Mas o ano passado assisti a uma concorrida conferência de um afamado académico de cinema cujo substrato era que o cinema é uma coisa do passado, e que o interessante agora é o visual em si mesmo. Tomo isto como indicação de que os especialistas de cinema acham insuportável não serem não-especialistas.»
«As soon as somebody learns that I’ve written about film I immediately start getting a lecture about what film is. There is something about film that makes it unberable for people not to consider themselves experts about it. At a reception the other evening I was told, “It is important to define what film can do that no other art can do” I said I agreed. My informant went on: “Film is visual.” But last year I attended a crowded lecture by a renowned scholar of film the burden of which was that film is a thing of the past, and that what is of interest now is the visual as such. I take this to indicate that experts about film find it unberable not to be inexpert.»

Stanley Cavell in conversation with Andrew Klevan, «What Becomes of Thinking on Film?» in Film as Philosophy, Palgrave Macmillan, 2005, p. 197.

Ao pé da letra #47 (António Guerreiro)

«A “crise” vem da metafísica e a ela regressa

O conceito de “crise”, que sofreu uma anexação semântica ao império da economia, pertenceu outrora a territórios metafísicos. Dois textos fundamentais da primeira metade do século XX atestam bem essa grandiosa proveniência: “A Crise do Espírito” (1929), de Paul Valéry, onde o escritor francês formulava uma célebre sentença: “Nous autres, civilisations, nous savons maintenant que nous sommes mortelles”; e “A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental”, uma conferência que Husserl pronunciou em 1935.


Devemos ao historiador alemão Reinhart Koselleck uma história desse conceito. No “modelo semântico” de Koselleck, a noção de crise passou, a partir da Revolução Francesa, a servir de interpretante da história política e social. E ele mostra também que a história pode ser interpretada como uma crise permanente. Mas essa memória metafísica que a palavra traz consigo não está completamente perdida: foi recuperada agora nos números astronómicos de dólares e euros que – dizem-nos – servem para debelar a crise e desafiam a nossa imaginação como um “deus absconditus”. Prova de que a economia é, cada vez mais, um ramo da teologia.»
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 16.5.2009.

CINEMA TERÇA 12 A DOMINGO 17 DE MAIO DE 2009
Pequeno Auditório · 3,5 Euros (Preço único)

Eros + Revolta
O novo cinema japonês
dos anos 60

Comissário: Augusto M. Seabra

Eros mais Massacre (Erosu purasu Gyakusatsu), Yoshishige Yoshida



Classificação: M/16

Informações e reservas
21 790 51 55
culturgest.bilheteira@cgd.pt

Em 1960, ao mesmo tempo que se discutia com enormes manifestações de rua a renovação do tratado de defesa nipo-americano, um tsunami ocorreu no cinema: chamaram-lhe então Shochiku Nabero Bagu, compósito singular porque a Shochiku era (e é) uma das grandes empresas cinematográficas japonesas e Nabero Bagu é a transcrição fonética da pronúncia japonesa de Nouvelle Vague. Nagisa Oshima sobretudo, Masahiro Shinoda e Yoshihige Yoshida foram os autores emergentes dessa “nova vaga”, enquanto Shohei Imamura se inicia na realização noutro estúdio, a Nikkatsu.
Ao contrário dos seus contemporâneos nos diversos novos cinemas dos anos 60, os japoneses, pelo menos aqueles de maior relevo, ainda passaram, num ápice, pelo tirocínio de assistentes de realização. Mas foi o próprio ocaso do sistema de estúdios em que se fundara o cinema clássico japonês, de Mizoguchi, Ozu ou Naruse, ou a geração humanista do pós-guerra, a de um Kurosawa, que fez com que tão precocemente, pelas normas desse sistema, se estreassem esses realizadores – para os estúdios urgia fazer filmes para um público jovem. Quase de imediato se dá a ruptura, apenas Seijun Suzuki (cineasta um pouco mais velho) permanecendo ainda alguns anos no seio do sistema, nas bordas do pinku eiga, o cinema erótico, e a fundo no Nikkatsu Action, de um modo todavia profundamente original.
O questionamento da sociedade japonesa, as pesquisas formais e a quebra de tabus figurativos de ordem erótica tornaram as sequelas da Nabero Bagu num dos pólos mais radicais dos novos cinemas dos anos 60.
Neste ciclo apresentam-se filmes de todos os autores maiores, em termos de ficção, com destaque justificado para Oshima mas também para o génio iconoclasta de Suzuki (autor que Quentin Tarantino amplamente “citou” em Kill Bill) realizador assim finalmente apresentado em Portugal.



Filmes legendados em inglês, excepto O Enforcamento que será legendado em português.


TERÇA-FEIRA 12

18h30
O Enterro do Sol (Taiyo no hakaba) de Nagisa Oshima, 1960, 16mm, 1h27
21h30
Noite de Nevoeiro no Japão (Nihon no yonu tokiri) de Nagisa Oshima, 1960, 16mm, 1h47


QUARTA-FEIRA 13

18h30
Sobre as Canções Brejeiras Japonesas (Nihon shunka ko) Nagisa Oshima, 1967, 16mm, 1h43
21h30
As Termas de Akitsu (Akitsu Onsen) de Yoshishige Yoshida, 1962, 35mm, 1h52


QUINTA-FEIRA 14

18h30
A Mulher-Insecto (Nippon konchuki) de Shohei Imamura, 1963, 35mm, 2h03
21h30
Intenção de Matar/Desejo Profano (Akai Satsui) de Shohei Imamura, 1964, 35mm, 2h30


SEXTA-FEIRA 15

18h30
Go, Go, Second Time Virgin (Yuke yuke nidome no shojo) de Kôji Wakamatsu, 1969, 1h05
21h30
O Funeral das Rosas (Bara no Soretsu) de Toshio Matsumoto, 1969, 16mm, 1h45


SÁBADO 16

15h30
A Porta da Carne (Nikutai no mon) de Seijun Suzuki, 1964, 35mm, 1h30
18h30
Elegia da Luta (Kenka erejii) de Seijun Suzuki, 1966, 35mm, 1h26
21h30
O Vagabundo de Tóquio (Tokyo nagaremono) de Seijun Suzuki, 1966, 16mm, 1h23


DOMINGO 17

15h30
Duplo Suicídio em Amijima (Shinju ten no Amijima) de Masahiro Shinoda, 1969, 16mm, 1h45
18h30
O Enforcamento (Koshikei) de Nagisa Oshima, 1968, 35mm, 1h57
21h30
Eros mais Massacre (Erosu Purasu Gyakusatu) de Yoshishige Yoshida, 1969, 35mm, 2h47


A tsunami called Shochiku Nabero Bagu hit Japanese cinema in the 1960s (Shochiku is one of Japan’s top film studios and Nabero Bagu is a phonetic rendering of Nouvelle Vague). At its head were Masahiro Shinoda, Yoshihige Yoshida and especially Nagisa Oshima.
As Japan’s studio system, which spawned Mizoguchi, Ozu, Naruse and the post-war humanist generation of Kurosawa declined, these new directors emerged. Japanese society was asking questions and breaking erotic taboos, and
Nabero Bagu became a radical focal point of ‘60s cinema. This series includes films by all of its major directors, with the emphasis on Oshima, but also the iconoclastic Seijun Suzuki.







Ao pé da letra #47 (António Guerreiro)

«A nova literatura universal” produz equívocos

Um longo artigo na revista New Yorker sobre António Lobo Antunes teve por cá algum eco, pelo facto de não ser propriamente muito elogioso, ao contrário do que tem sido habitual na recepção deste escritor no estrangeiro. Lendo o artigo, podemos verificar que ele é bastante inócuo: muita circunstância histórica e biográfica, quase nada de leitura da obra. Temos aqui um exemplo do que são as regras da difusão e consagração de uma nova ‘literatura universal’ que, ao contrário do que parece, nada deve ao conceito goethiano de weltliteratur.


A questão da globalização da literatura coloca enormes problemas, na medida em que a relação com a tradição literária nacional é bastante importante na leitura e na apreciação de um escritor. Por isso, a recepção no estrangeiro de um autor pertencente a uma literatura pouco conhecida pode ser completamente diferente da que lhe está reservada no seu próprio país. No cânone desta literatura universal entra mais facilmente um escritor de todo o lado, porque não é de sítio nenhum, do que entraria um Joyce, apesar de tudo demasiado radicado na sua cultura irlandesa e na sua Dublin natal.»
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 9.5.2009.

Raros filmes de Maio


Banditi a Orgosolo
Vittorio De Seta

1960, 91’
3ª, dia 5, 19h
Cinemateca*, Lisboa


Run of the arrow
Samuel Fuller

1956, 85’
História permanente do cinema
Sáb, dia 9, 19h – Cinemateca
[o filme na origem da expressão
“o travelling é uma questão de moral”]

L’ordre
Jean-Daniel Pollet
1973, 44’
História permanente do cinema
Sáb, dia 9, 22h – Cinemateca


Los olvidados
Luis Buñuel
1951, 80’
3ª, dia 12, 21h30 – Cinemateca

Several friends
1969, 21’
The horse

1973, 14’
Charles Burnett
Charles Burnett
5ª, dia 14, 22h – Cinemateca
 

Greed
Erich Stroheim
1924, 130’
História permanente do cinema
Sáb, dia 16, 19h30 – Cinemateca

Koshikei / O enforcamento
Nagisa Oshima
1968, 117’, 35mm
Eros + Revolta. O novo cinema japonês
dos anos 60* (prog. Augusto M. Seabra)
Dom, dia 17, 18h30 – Culturgest


Tabi yakusha /
Actores ambulantes
Mikio Naruse
1940, 70’
Finalmente Naruse!
4ª, dia 27, 22h – Cinemateca


Das Testament des Dr. Mabuse
Fritz Lang
1933, 120’
História permanente do cinema
Sáb, dia 30, 19h30 – Cinemateca


Faces
John Cassavetes

1968, 130’
História permanente do cinema
Sáb, dia 30, 21h30 – Cinemateca


[apenas filmes vistos, sem repetições, em formatos originais]

Ao pé da letra #46 (António Guerreiro)


«Há um marxismo vulgar que mudou hoje de campo

Uma das formas mais reconhecíveis de um marxismo vulgar consistiu na caricatura dos capitalistas – reproduzida também na iconografia – como indivíduos ávidos de dinheiro e moralmente execráveis. É um marxismo vulgar, porque simplifica uma análise que nunca decorreu à psicologia e evitou qualquer moralismo. A caricatura do capitalista arrogante e diabólico não pede inspiração a Marx.


Não deixa por isso de ser curioso que uma nova vulgata, difundida por quem até há bem pouco tempo ria dessa caricatura e deduzia dela a própria vulgaridade do marxismo, se tenha apropriado dos seus traços negros e tenha começado a reproduzi-la num desenho ainda mais reprovador, sob a forma do capitalista sem escrúpulos, de uma avidez desmedida, que não respeita a “ética do capitalismo” (a alusão a Max Weber fica bem, mas é enganadora). Porque é que a caricatura dá agora tanto jeito? Porque, à semelhança do marximo vulgar, há um empirismo vulgar que vê a irracionalidade e a ganância no comportamento de certos indivíduos, salvando assim o processo louco e autodestrutivo que é o próprio sistema da mercadoria, no seu funcionamento tautológico.»
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 2.5.2009.


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