Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Fêmeas

?

[E agora, algo de completamente diferente...]

Assim a modos de antropologia precoce, e em jeito de esclarecimento introdutório, queria salientar um dos aspectos mais caricatos e surpreendentes dos blogues em geral. Trata-se da tendência para a súbita aparição de imagens de "gajas boas", mesmo ou sobretudo no meio de discussões e textos aparentemente sérios. Tal curto-circuito mental, tão cândido, não pára de me espantar. A ingenuidade do gesto é comovedora.
Como pretendia iniciar uma série dedicada a algumas "fêmeas" em particular, e cujo objecto de análise são as mulheres propriamente ditas, não queria que houvesse qualquer confusão. Não uso o termo "fêmea" com qualquer sentido pejorativo, embora reconheça que socialmente o tem. Se desviar os sentidos que as palavras têm é dos trabalhos quotidianos mais nobres e urgentes que se podem ter, neste caso, reconheço que o desvio se afigura difícil. E, de resto, nem sei bem ainda explicar porque o prefiro a esse mais abrangente de "mulheres". Assim, "fêmea" refere o «indivíduo cujos órgãos reprodutores produzem um óvulo; por ext. animal do sexo feminino». Talvez seja então o "animal" que me interessa, mas num sentido não meramente reprodutor, muito menos no de "animal de palco".
A ideia desta série vem de longe, mas só a inicio agora, quando quase resolvi este equívoco na minha cabeça. E tal foi apenas possível devido a esta imagem, encontrada um pouco ao acaso. Trata-se de uma fotografia que exala feminilidade, da mais extrema, diria. Precisamente daquela com que nos presenteiam frequentemente, embora em poses de modelo e fotografia estilizada, por exemplo, de cada vez que aparece a querida Scarlett Johansson com as suas mamas. Mas, como tanta coisa nestes tempos, ainda bem que nem tudo é o que parece...
Presumo que não seja de bom tom falar de gratificação em público. Mas parece-me que todas estas imagens têm uma função social reconhecível, de que se fala muito pouco. Uma espécie de último segredinho sujo nesta exposição da sexualidade. Sinto-me bastante idiota por referi-lo, dado que é tão óbvio, mas vejo-me obrigado, for the sake of argument. Estas imagens têm por principal função, aliás de grande utilidade social, o facilitar a libertação das pulsões sexuais solitárias dos homens, em suma, a masturbação. Conscientes deste facto, as bancas de jornais com tantas revistas impregnadas deste género ganham também outra cor.
O que me apetece perguntar é se não é esta imagem que aqui apresento também uma que serve esse propósito de aceleradora da pulsão? Convinha perguntar então a muitos homens se serviria ou não. É pois preciso fazer as perguntas mais estúpidas. Depois da resposta (ou da experiência), deveríamos facultar-lhes a seguinte informação contida nesta série de imagens, que espero elucidativas. Se se limitarem a vê-las aqui, no entanto, dado o tamanho da imagem, será impossível de perceber. Tem de se seguir o link da imagem e procurar pelo trabalho conjunto do fotógrafo Ricardo de Sousa. Depois já não haverá lugar para a suspeita, surgirá bruscamente a evidência.



Mas é precisamente aqui que fica algo por compreender. Na posse desta informação adicional, ainda se consideraria tal imagem como um objecto de desejo, pelo menos confessável? A mim, parece-me que não faz absolutamente nenhum sentido, se falamos de imagens (é afinal delas que falamos?), dizer conscientemente, a posteriori, que não.


Esta pequena excursão destina-se simplesmente a permitir-me, no futuro incerto, escrever a sério sobre as seguintes fêmeas singulares: Pascale Ogier, Madhabi Mukherjee e Eleonora Rossi Drago, entre outras. Sem peso na consciência e, de resto, completamente vestidas, elas.


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