Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Mise en abîme #2: Comentário áudio

Barbara Auer – Como chegaste a este filme?
Christian Petzold – Quando tinha a mesma idade que Jeanne [a jovem personagem feminina de DIE INNERE SICHERHEIT], vi este filme [NUIT ET BROUILLARD]. Nessa altura, traumatizou-me profundamente.
Na escola?

Sim... Acho que é, ainda hoje, o único filme sobre Auschwitz. O único filme que não mostra apenas, mas permite conhecer Auschwitz.
Acho a voz estranhíssima, rude... daquele tempo. Fica-se a pensar que os nazis falavam assim, apesar do que é dito.
É a locução alemã, traduzida da locução francesa para alemão por Paul Celan em 1955. O filme esteve em Cannes nesse ano e os alemães abandonaram em protesto, porque este filme enfraquecia a história da Alemanha. Foi um enorme escândalo.
No início dos anos 60 voltou à Alemanha, através dos cineclubes, onde se o podia ver na versão original. Podemos dizer que foi um filme extremamente importante para 68. Nele percebe-se que 68 é uma reacção contra os pais nazis.
A primeira geração da RAF [Rote Armee Fraktion/Fracção do Exército Vermelho]...
A rapariga está a ser responsabilizada pelo professor por uma coisa que conhece demasiado bem [os pais dela são ex-militantes armados de esquerda]. Está a ser castigada por uma coisa que conhece de corpo inteiro. Acho a cena brutal.
Vejo este professor como um esquerdista desiludido. É assim que imagino aqueles professores dos finais dos anos 70, que acham que os alunos de hoje só querem portáteis, dvds, música americana...
Alguns sim, hoje estão mesmo desiludidos. Eram jovens quando vieram para a escola...
O irem para a escola acabou-lhes rapidamente com a juventude! É certamente um professor de esquerda, pelos filmes que mostra e por fazer perguntas relacionadas com um conhecimento de história. E então chateia naturalmente a rapariga, massacrando-a bem mais do que o necessário...




Comentário áudio de DIE INNERE SICHERHEIT, por Christian Petzold (realizador) e Barbara Auer (actriz que faz de mãe da rapariga), sobre as imagens do excerto que mostra NUIT ET BROUILLARD.

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