Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #59 (António Guerreiro)

«A biopolítica apoderou-se da homossexualidade

A possibilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo resolve seguramente questões relacionadas com direitos legítimos e satisfaz desejos de integração simbólica. Mas o discurso que tudo isto gera e as representações que se criam é um preço elevado a pagar. O resultado mais nefasto consiste no facto de a ideia de homossexualidade ficar aprisionada nas malhas da biopolítica, isto é, nos mecanismos de governamentalização da vida das pessoas. Por outro lado, reforça a vontade mimética de entrar na normalidade geral das relações sociais e de reivindicar uma identidade representável perante o Estado.
Na medida em que protege e resolve questões pragmáticas, o casamento é um direito – e já passou o tempo da homossexualidade heróica, à maneira de Pasolini. Mas, no plano das linguagens, assistimos a um discurso que não tem nenhuma virtualidade: não inventa, não perturba, encerra-se com boa consciência no estereótipo e no Kitsch. E porque é que haveríamos de exigir-lhe mais? Porque, se não dá lugar a uma cultura – e Foucault disse-o bem –, a homossexualidade não passa da identificação com as máscaras que lhe são impostas.»

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 8.8.2009.



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