Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Não deixar que um filme crie o seu duplo



« É um filme bastante misterioso, talvez demasiado elíptico. Não estou satisfeito com o modo como geri a narração nos Ossos. Há momentos em que a imagem excede um pouco o texto implícito – que é, na verdade, um texto bastante denso –, e que acaba um pouco esmagado pelas imagens e pelo som, que eram talvez um bocado demasiado elegantes. Ossos é um filme que tem talvez uma elegância excessiva. Não sou contra a elegância, mas há que encontrar um equilíbrio de modo a que esta não seja prejudicial e vá a par com a narração. É por este motivo, aliás, que o filme teve um certo sucesso no mundo do cinema, entre os espectadores cultos e cinéfilos. Porque Ossos permite muitas coisas que não estão no corpo do filme. Mas eu queria aproximar-me de um cinema que não permita isto, de um cinema que se limite a ser o que está ali, presente. A minha grande ambição neste momento é não deixar que um filme crie o seu duplo. »

Pedro Costa, entrevistado por Gregory Catella in Carte de cinema, n.º 6, Outono 2000, Siena

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