Notas demasiado soltas (DocLisboa 2007) #6: Filmes gay
Um pouco ao arrepio do paradigma categorial vigente, e de modo a proporcionar uma mais adequada sectorização de público e, também e sobretudo, de crítica, e exponenciando ao mesmo tempo e mais adequadamente as virtualidades de ambas, gostava de me dirigir à estimada assembleia propondo a seguinte, e concerteza parcialmente incorrecta, como todas as ainda não validadas pelo sistema convencionado de peer review, distinção entre filmes gay e filmes feitos por gays. Assim, e procurando emancipar a segunda categoria do estatuto de subdivisão da primeira, poderíamos eventualmente estabelecer como pertencentes à primeira categoria, por exemplo, China, China de João Pedro Rodrigues, Compilation, 12 instants d’un amour non partagé de Frank Beauvais, Glitterburg atríbuido a Derek Jarman, e Pensão Globo de Mathias Müller, enquanto à segunda, O sabor da melancia de Tsai Ming Liang, De son appartement de Jean-Claude Rousseau, La pudeur et l’impudeur de Hervé Guibert, e Tarch trip de Hiroyuki Oki. | Ou, caso a assembleia esteja disposta a assim estabelecer como consenso operativo, poder-se-á igualmente declarar provisoriamente inerte a dita categoria supradivisória, na medida em que não foi detectado nem parece haver registo indicativo de efeito da correspondente substância activa, e até que testes experimentais mais avançados o consigam determinar, no que toca à acção favorável ou desfavorável desenvolvida no dado campo cinematográfico, tomado em sentido estrito. Obviamente, não será demais salientar que a área de acção desta clarificação categorial restringe-se estritamente ao atrás referido campo cinematográfico, não devendo ser entendida como um movimento de recuperação de quaisquer paradigmas anteriormente vigentes que não expressavam a complexidade e diversidade do conjunto dos campos operativos dos vários subsistemas. |