Quem pensa em abstracto? | Who thinks abstractly?
«“Ó velha, os seus ovos estão podres”, diz a criada à vendedeira da praça. “Quê, retorque ela, os meus ovos, podres? Podre está você! É você que vai apontar alguma coisa aos meus ovos? Logo você! Não foi o seu pai comido pelos piolhos lá na estrada? Não fugiu a sua mãe com os franceses? E a sua avó, não morreu ela no hospício? Vá mas é comprar uma camisa interior com o seu lenço encastrado. Sabemos bem donde vem esse lenço, e o seu chapéu! Se não fosse pelos oficiais, muitos não estariam tão anémicos. E se as madames se ocupassem um pouco de suas casas, muitos estariam por trás das grades. Vá mas é coser os buracos das meias.” — Em suma, não lhe perdoa nada. Pensa em abstracto; faz desaparecer a outra mulher por detrás do seu lenço, do seu chapéu, da sua camisa e todo este terramoto, até por detrás dos dedos ou doutras partes do corpo, e mesmo o seu pai e toda a tribo, pelo crime apenas de ter achado os ovos podres. Tudo nela ganha a cor dos ovos podres...» | «Old woman, your eggs are rotten! the maid says to the market woman. What? she replies, my eggs rotten? You may be rotten! You say that about my eggs? You? Did not lice eat your father on the highways? Didn't your mother run away with the French, and didn't your grandmother die in a public hospital? Let her get a whole shirt instead of that flimsy scarf; we know well where she got that scarf and her hats: if it were not for those officers, many wouldn't be decked out like that these days, and if their ladyships paid more attention to their households, many would be in jail right now. Let her mend the holes in her stockings! — In brief, she does not leave one whole thread on her. She thinks abstractly and subsumes the other woman — scarf, hat, shirt, etc., as well as her fingers and other parts of her, and her father and whole family, too — solely under the crime that she has found the eggs rotten. Everything about her is colored through and through by these rotten eggs...» Hegel, Wer denkt abstrakt |