Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #42 (António Guerreiro)

«Será possível salvar quem corre para o suicídio?

Na semana em que decorre na cidade de Perugia um encontro com o nome de operação de emergência, Cinco dias para salvar o jornalismo, apetece recordar Hegel: “A leitura do jornal é a oração matinal do homem moderno”. Já não é possível atribuir aos jornais a função de socialização da cultura e emancipação intelectual. Mas talvez estes tenham ido longe demais, alienando-se do público culto, da “esfera literária”, no sentido que tal expressão ganhou na época do Iluminismo.


Exemplifico com o jornal que me proporciona a oração matinal, o Público. Na secção “Escrito na pedra”, citava-se na semana passada uma frase de Paul Celan: “A poesia é uma espécie de boas-vindas”. Quem conhece os textos em prosa de Celan sabe que ele não escreveu tal coisa, mas sim: “O poema é uma espécie de regresso a casa” (“Eine Art Heimkehr”). Alguns dias depois, na mesma secção, surge outra citação deturpada de W. Benjamin. Por trás destes descuidos está o pressuposto funesto de que o leitor é ignorante e nem ousa querer sair desse estado de menoridade. Daí a regra paradoxal em que vivemos: os livros e os jornais, na sua maioria, são editados para quem não gosta de ler e não aspira ao saber.»

António Guerreiro, «Ao pé da letra»,Expresso-Actual
, 4.4.2009.

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