Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #36 (António Guerreiro)


«Falta à Esquerda pensar a questão do trabalho

Nas circunstâncias actuais, parece indiscutível a frase tantas vezes repetidas de que “o pior é não ter trabalho nenhum”. Razões pragmáticas justificam este realismo incondicional, mas no plano teórico é bem visível que a Esquerda, de quem se esperaria um pensamento sobre a questão do trabalho, não consegue ir além da visão marxista: o homem alienando-se num processo de produção que o reifica.

Sobre o trabalho, o que se escreveu de mais significativo no século XX devemo-lo a Weber e Hannah Arendt, que critica Marx por este não fazer a distinção entre trabalho e obra e por não ter reconhecido que o homem é, por necessidade, um animal laborans. Recentemente, André Gorz formulou o prognóstico do “fim da sociedade do trabalho”. Mas a esquerda não tem teoria sobre esta matéria e continua vinculada ao pragmatismo que se demitiu de pensar. Deveria prestar atenção ao conceito de ‘inoperância’, introduzido pelo filósofo Giorgio Agamben: a inoperância não como uma passividade mas como a actividade que torna inoperativas as operações económicas e sociais. A arte responde a esta condição e por isso ela é constitutivamente política.» 

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual
, 21.2.2009.

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