Política e polícia (Jacques Rancière)
«A política, com efeito, não é à partida o exercício do poder ou a luta pelo poder. O seu quadro não está desde logo definido pelas leis e instituições. A primeira questão política é saber que objectos e que sujeitos concernem a essas instituições e a essas leis, que forma de relações definem apropriadamente uma comunidade política, que objectos concernem essas relações, que sujeitos estão aptos a designar esses objectos e a discuti-los. A política é a actividade que reconfigura os quadros sensíveis no seio dos quais se definem os objectos comuns. Ela rompe com a evidência sensível da ordem “natural” que destina os indivíduos e os grupos ao comando e à obediência, à vida pública ou à vida privada, ao assigná-los desde logo a um certo tipo de espaço ou de tempo, a certa maneira de ser, de ver, e de dizer. | Esta lógica dos corpos no seu lugar dentro da distribuição do comum e do privado, que é também uma distribuição do visível e do invisível, da palavra e do ruído, é aquilo a que propus nomear com o termo de polícia. A política é a prática que rompe com essa ordem da polícia que antecipa as relações de poder na própria evidência dos dados sensíveis. Ela fá-lo através da invenção de uma instância de enunciação colectiva que redesenha o espaço das coisas comuns.» Jacques Rancière, «Les paradoxes de l’art politique», Le spectateur émancipé, La Fabrique, Paris, 2008, p. 66 |
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