Ao pé da letra #28 (António Guerreiro) «A metáfora do sangue presta-se a usos sinistros Na semana passada ficámos a saber, através de um estudo relatado pelo Público, que os portugueses têm, em elevada percentagem, genes dos mouros e dos sefarditas. A ciência que pretende determinar as características genéticas de um povo, grupo ou comunidade é mais do que duvidosa e acaba geralmente na sinistra biologização da Cultura e da História e na procura do originário e incorrupto. Com base neste estudo, José Manuel Fernandes escreveu um editorial intitulado “O ADN deste país em que vivemos...”, que começava de forma eloquente: | “Deixem-se de peneiras, portugueses do Sul: 35 por cento do sangue que corre nas vossas veias é judeu.” J.M.F. até se regozija com esse facto, mas a sua apologia da mestiçagem recorre à mesma retórica do mito da raça. A metáfora do sangue é daquelas que não podemos ler sem sobressaltos, sobretudo quando serve para a figuração de um povo (veja-se a obsessão nazi da “Rassengestalt”) e para determinar a sua História com destino. Quando J.M.F. passa do sangue do “nosso destino como nação” estamos no campo da biopolítica total e da ideologia totalitária, que permite explicar o movimento da História como um processo único e coerente.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 13.12.2008. |
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