The Big Parade
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os soldados avançam por entre as árvores. são pequenos entre os grandes troncos. avançam até alcançarem campo aberto, aberto de buracos onde os soldados se enfiam com as suas armas. a guerra das trincheiras, cada buraco seis homens. de novo têm cara e nome. do lado de lá, do outro lado, está o inimigo. dele não conhecemos nenhuma cara, nenhum nome, nenhum gesto pequeno, apenas as suas bombas, as manchas de fogo, o fumo, o pó. o campo está separado pela distância que dita um lado contra o outro. dos buracos avistam-se os outros buracos e dos buracos os soldados matam de longe sem que vejam de perto a morte que provocam. a guerra passa-se nessa cegueira. passa muito tempo e depois é noite e o tempo passa ainda mais lentamente. esperam-se sinais para alvos: os homens na trincheira esperam, acendem um cigarro e na escuridão surge um ponto de luz - estranho farol - que aponta para onde lançar fogo e o fogo é lançado. o companheiro que fumava morre e o soldado sai da trincheira sob o tiroteio. não há recuo, não há regresso. resta aquele caminho impelido para a frente, com a espingarda empunhada. avança a peito aberto, dispara, atira, avança. depois chega a um buraco do lado de lá, ele tem a espingarda na mão e outro está ferido, deitado por terra. podem se ver, dois homens, com as suas caras sujas, com o cansaço o tomar-lhes os corpos e o absurdo a cair sobre a terra. estão lado a lado, com os seus nomes e línguas para cada um incompreensíveis. no escuro devastado por explosões, os dois homens partilham em silêncio um cigarro. a guerra está do lado de fora, e o mundo, maior que os dois lados da guerra, tem o tamanho daquele buraco.
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