Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #50 (António Guerreiro)
«A História e os retrocessos civilizacionais

No “sensacionalismo crescente dos noticiários” vê Pacheco Pereira “um retrocesso civilizacional”. A preocupação é pertinente, mas duvidoso é o pressuposto em que se baseia: o de uma história universal cuja lei é a da perfectibilidade e do progresso. As teorias progressistas da História herdadas do século XIX só sobreviveram nas formas mais fulgurantes do marxismo. Uma das grandes figuras intelectuais do século XX, Aby Warburg, mostrou que todas as conquistas da razão nunca são definitivas, e as forças demoníacas trans-históricas regressam sempre como fantasmas.
A palavra ‘civilização’ presta-se aos usos mais equívocos, e não é por acaso que os alemães fizeram uma distinção entre Zivilisation e Kultur, recusando a primeira por a identificarem com um progresso material e uma universalidade que destroem a verdadeira Kultur do espírito (germânica, acrescente-se). E assim baralharam o trabalho dos tradutores (afinal, Freud, com “Das Unbehagen in der Kultur”, escreveu o “Mal-Estar na Cultura” ou o Mal-Estar na Civilização”?) e lançaram ainda mais suspeitas sobre os arautos dos progressos e dos retrocessos civilizacionais.»
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 6.6.2009.

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