Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #24 (António Guerreiro)

«Para a Fnac, literatura é sinónimo de sector livreiro

Quem, como eu, acha que a crítica literária é uma coisa do passado, não pode deixar de ver uma confirmação das suas convicções num convite da Fnac Vasco da Gama, dirigido a “António Guerreiro – Literatura/sector livreiro – Expresso”. Esta maneira de formular o endereço vale por um ensaio. Pode ser que os sábios da Fnac, altamente especializados, não conheçam outra linguagem; também pode ser que, na tribo de que fazem partem, “sector livreiro” seja a “palavra maná”, o “significante-mestre” estudado pelos antropólogos;

mas um céptico como eu vê aqui a prova de uma justiça imanente: o “sector livreiro” é o nosso destino, e ele cumpre-se hoje quase da mesma maneira quando escrevemos sobre livros nos jornais ou quando os doutos da Fnac os seleccionam e os arrumam nos escaparates segundo os princípios da sua ciência. Não tenhamos dúvidas: na evolução do “sector livreiro” da Fnac, nas rearrumações sucessivas, podemos ver um trabalho crítico impiedoso, quase de extermínio. Não é que, enquanto empresa, não tenha o direito de o fazer; mas por uma questão de “bienséance” convinha que não visse em todos os que se dedicam aos livros trabalhadores do mesmo ramo.»

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual
, 15.11.2008.

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