Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #22 (António Guerreiro)

«Sobre nadadores de terra firme e metáforas absolutas

Na versão de Durão Barroso, o “nous sommes embarqués”, de Pascal, declina-se assim: “Ou nadamos todos juntos, ou vamos todos ao fundo.” Passemos ao lado do pequeno desvio que ele imprime à metáfora náutica; mantém-se, ainda assim, o sentido existencial da metáfora do naufrágio. Trata-se de uma metáfora a que o filósofo alemão Hans Blumenberg chamou “metáfora absoluta”. As metáforas absolutas são, segundo Blumenberg, formas de pensamento que não podem ser redutíveis a conceitos, remetem para uma representação da realidade, para um pensamento, que não pode ser dito e reelaborado senão metaforicamente.


O expediente retórico de Durão Barroso é uma operação manhosa, e ilegítima: porque introduz a metáfora absoluta, que por definição exprime orientações que não podem ser desmontadas e regula o nosso juízo sobre as coisas, num campo que tem de estar sujeito à discussão e à crítica. Durão Barroso serve-se da metáfora absoluta para nos tornar a todos reféns de um pensamento que supõe uma Ordem do mundo e uma Certeza sobre ela. Eis em acção os mecanismos do pensamento totalitário em que estamos todos embarcados.»

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual
, 1.11.2008.



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