Notas demasiado soltas (IndieLisboa 2008) #1: Antecipações cegas
Sobre a natureza dúbia deste jogo de adivinhação, quer dizer, deste olhar para as vísceras dos filmes por vir (as sinopses, as imagens, os trailers, as críticas, etc.) e nelas ler o futuro da experiência na sala escura, já me expliquei demasiado, por ocasião das anteriores edições do IndieLisboa e DocLisboa. Os resultados, para o adivinho, apresentam-se bastante aceitáveis. Mas serão partilháveis? O falhanço de uma intuição não será muito mais pesado para quem a seguiu sem auscultar as suas próprias vísceras? Bom, de qualquer maneira, aqui ficam as suspeitas, para os aventurosos. Nestas contas não entram os documentários STAUB (Dust) de Hartmut Bitomsky e RESPITE (in MEMORIES) de Harun Farocki, que já foram vistos e, consequentemente, recomendados na rubrica (e agora também calendário) dos «Meros filmes». Em primeiro lugar, porque sigo a ordem de projecção, antecipo cegamente o documentário WUYONG (Useless) de Jia Zhang-Ke, realizador interessante de que só me dei conta através de uma retrospectiva no Indie, precisamente, apesar de um filme seu ter estado em sala; também, embora com alguma hesitação para os mais delicados, o impossível ANABAZYS de Paloma Rocha e Joel Pizzini, uma corajosa (ou, mais provavelmente, inconsciente) continuação de um dos mais difíceis e excessivos filmes de sempre, A IDADE DA TERRA de Glauber Rocha; mais um exercício de curta duração de Pedro Costa, A CAÇA AO COELHO COM PAU, incluído no filme colectivo MEMORIES e provável antecipação do seu trabalho contínuo; | ROZ (Pink) de Alexander Voulgaris, porque gostei francamente dos bocados que vi; CHARLY de Isild Le Besco, por este elogio de Chris Marker: «[... U]m filme, o de Isild, pelo menos tão misterioso quanto ela. Um filme de esfoladelas e de verdade, que recusa as maquilhagens da sedução para atingir esse ponto incandescente onde a dificuldade de estar com o outro já não é representação de papéis mas um salto no vazio, que rompe com todos os códigos cinematográficos bem-pensantes e que não se deixa esquecer»; igualmente, PROFIT MOTIVE AND THE WHISPERING WIND de John Gianvito, porque é um autor conhecido do melhor programador português (não, não é Pedro Mexia; é um daqueles que podia e devia estar no lugar de Pedro Mexia); KILLER OF SHEEP de Charles Burnett, cineasta negro dos já longínquos anos 70, entrevisto em LOS ANGELES PLAYS ITSELF de Thom Andersen; MARFA SI BANII (Stuff and dough) de Cristi Puiu, incluído na sessão do Novo Cinema Romeno 4, pois é a primeira longa metragem do realizador do excelente A MORTE DO SR. LAZARESCU. À medida das descobertas, a sua partilha será actualizada no calendário público «Meros filmes». A tempo, espera-se, da segunda passagem dos filmes. |
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