Notas demasiado soltas (IndieLisboa 2008) #5: tmn
Uma das mais fantásticas invenções deste festival, no nosso contexto, é o sponsoring de salas. Temos assim a Sala tmn no cinema São Jorge. Como sabem o azul é a cor da dita marca. Pois, feliz coincidência, encontraram logo uma sala com risquinhos luminosos azuis no chão que indicam os locais de passagem. Mas logo à entrada já uns grandes painéis nos anunciavam que estávamos a aceder a uma sala especial, “esponsorizada” ou lá como é que se diz. Mas aquilo em que realmente nos apercebemos da presença da marca, lamentavelmente para nós mais do que queríamos, mas sendo isso precisamente o que interessa nestas coisas, para as marcas, é que em cada cadeira há um daqueles papelinhos que se colocam no topo dos assentos dos aviões, por exemplo, para o bedum do cabelo não sujar as cadeiras e outras coisas. Caindo para o lado do ocupante da cadeira e para trás, bem visíveis, estes papelinhos, têm, claro, o azulinho bem evidente. O problema é que comportam também umas generosas margens a branco, bem como as próprias letras do logotipo também a branco, aumentando em vários factores a luminosidade geral da sala. | Ora, na sala escura, sublinhado escura, não convém nada a branco no nosso campo de visão. Excepto, claro está, o próprio ecrã, onde a dita marca, por acaso, também nos massacrou antes do filme começar. Não estando ninguém sentado à minha frente, afastei delicadamente com os meus pés descalços aqueles anúncios da minha frente. Achei que era um pouco demais... Além disso, o filme romeno que estava a ver, de sugestivo título português CENAS E GUITO, envolvia o uso intensivo de telemóveis arcaicos, pois a acção passa-se no final da longínqua década passada, tanto quanto pude perceber. Sujeitos às intempéries dos humores dos aprendizes de mafiosos, os telemóveis, cujo uso era manifestamente diferenciado do de hoje, pois o tamanho sugeria uma gestualidade diferente, digamos, mais larga e denunciada, eram regular e generosamente maltratados. Ao pé daquele emprego, o meu afastar dos anúncios, no final da sessão cuidadosamente repostos por diligentes funcionários, já não tinha aquele tom revolucionário e anarquista que lhe tentei emprestar de pé descalço. |
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