Quando se acende a luz...
«Era como quando, no cinema, diante dos olhos arregalados da multidão, desfilam ao ritmo triunfal e nostálgico da orquestra as grandes cidades e todas as suas riquezas, as paisagens longínquas, as aventuras, as mulheres mais belas e os homens mais afortunados. Ao ritmo apressado do seu coração iludido, o cinema das suas ambições corria cada vez mais rápido... no ecrã da sua fantasia as imagens perseguiam-se, encontravam-se, misturavam-se, ultrapassavam-se... era a corrida das esperanças, que tira a respiração, faz tremer a alma, ilude, e finalmente dissolve-se, deixando a medíocre realidade; exactamente como no cinema quando se acende a luz e os espectadores se entreolham com caras desencantadas e amargas.» |
Alberto Moravia, Os indiferentes, trad. Álvaro de Almeida, Colecção Público Mil Folhas, Porto, p. 198