Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #129 (António Guerreiro)

Más, e singelamente burocráticas, são as razões que levaram o Ministério da Educação a não deixar que fossem afixados nas escolas os cartazes de uma campanha contra a discriminação e a violência exercida sobre os alunos homossexuais. No entanto, os cartazes fornecem boas razões — que não são as do Ministério — para serem rejeitados. Retirando as mensagens escritas — “Um de nós é gay”/ “Uma de nós é lésbica” —, tudo neles poderia ser transferido sem obstáculos para uma revista de paróquia: o grafismo, a imagem e a pose dos três rapazes e das três raparigas que foram fotografados. O que é que estes cartazes promovem, afinal? Uma imagem muito limpinha da homossexualidade, sem mácula nem espessura, que responde aos cânones mais respeitáveis. Ali, não há nenhuma inquietação, não se insinua qualquer linha de fuga imprevista, a homossexualidade é perfeitamente integrada na normalidade das relações sociais e responde a uma grande reivindicação de igualdade, própria de uma sociedade muito polida — não há diferença entre a homossexualidade e a heterossexualidade. 

É a esta grande operação ideológica que se têm entregado com zelo um número apreciável de pessoas — surgidas nos últimos tempos —, muito ativas, muito apreciadas, muito presentes, tão cheias de boas intenções como as madrinhas de guerra do Movimento Nacional Feminino. Talvez pareça injusto desqualificar-lhes o trabalho e introduzir dúvidas no seio de tanto entusiasmo. Mas se a visão da homossexualidade que anima estas brigadas de gente moderna, culta e generosa as leva a defender o que nos cartazes se pode entrever (isto é, um mundo completamente normalizado e estetizado à medida do Kitsch ideológico e luminoso), então o melhor é os homossexuais começarem a defender-se dos seus defensores. 

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Atual, Portugal, 5.3.2011.

1 comentário:

sara cacao disse...

Os cartazes dizem "Uma de nós é lésbica/gay e estamos bem com isso. O bullying homofóbico não é aceitável na nossa escola".

A notícia do Público publicou a imagem dos postais referindo-se a eles como os cartazes do Projecto Inclusão. Ora esse dado está incorrecto e convém dizê-lo.

Os postais da campanha do Projecto Inclusão dizem "Uma/um de nós é lésbica/gay". E no verso têm informação sobre o projecto e sobre o Observatório de Educação, um questionário anónimo que recolhe queixas sobre homofobia e transfobia ocorridas em contexto escolar.

Mensagens diferentes no vários materiais da campanha? Sim.

A campanha através dos postais destina-se ao público em geral. Foram 100 mil postais distribuídos nos circuitos de cinema, ócio e ensino através da postalfree.

Os cartazes distribuídos pelas escolas têm uma mensagem específica para a realidade escolar. Será errado dizer-se que o bullying homofóbico não é aceitavel nas escolas? Não deve o bullying na sua generalidade ser repudiado e condenado por todas e todos? Parece-me que sim.

Mais informação:

http://www.facebook.com/notes/projecto-inclus%C3%A3o-da-rede-ex-aequo/projecto-inclus%C3%A3o-da-rede-ex-aequo-nota-de-esclarecimento/191977664165789


Arquivo / Archive