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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #181 (António Guerreiro): A ideia de universidade

Uma reportagem do Público de terça-feira sobre “a fusão orgânica” entre as universidades Clássica e Técnica de Lisboa mostra, com grande evidência, que se trata de perseguir um consabido modelo empresarial transnacional, que coloca toda a ênfase na noção tecno-burocrática de excelência, e em que os alunos são os clientes. Este é o modelo das universidades americanas que toda a Europa parece querer importar. Porém, é preciso não esquecer que há uma “ideia da Europa” que está intrinsecamente ligada à “ideia de universidade”, e quando uma entra em ruína a outra tem o mesmo destino. “A ideia de universidade” designa uma problemática de carácter filosófico desde que, em 1923, Karl Jaspers escreveu um texto com esse título sobre a universidade alemã. Foi na Alemanha, recordemos, que nasceu a ideia moderna de universidade. Primeiro com Kant, que introduz o ideal de uma unidade orgânica dos saberes, sob a égide do conceito de razão e como projeto histórico para a humanidade.  
Mas é com Humboldt, e o modelo que ele instituiu na Universidade de Berlim, que nasce propriamente a universidade moderna, em que a ideia alemã de cultura do idealismo está no centro, e não já a ideia kantiana de razão. Quando, já perto de nós, esta ideia de cultura e o seu projeto de socialização e emancipação entram em crise de existência e legitimidade, é a própria universidade que perde a sua “ideia” e passa a incidir-se nos métodos do benchmarking universitário. É aí que a universidade da excelência emerge no lugar da universidade da cultura. E isso acontece quando já não há uma ideologia da cultura nacional em que se baseava a universidade moderna. Nesta circunstância, a pergunta que se começou a fazer (fá-la, por exemplo, o universitário americano Samuel Weber) é se há ainda uma “ideia” de universidade, e não qual é hoje a ideia de universidade.

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Atual, Portugal, 3.3.2012.

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