Ainda não começámos a pensar
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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #97 (António Guerreiro)

Sobre o arraial das livrarias e a Feira do Livro

«Todos os anos, mal a Feira do Livro acaba, começam os balanços da operação. A contabilidade é sempre comparativa (com o ano ou os anos anteriores), e o critério mais utilizado é o do ‘volume de negócios’. A propósito de um feira que durou quase um mês, ninguém parece interessado em perguntar se as barracas montadas por tanto tempo não afastam, mais do que seria desejável, as pessoas das livrarias (não esqueçamos que é o princípio de uma saudável rede livreira, como garantia da diversidade, que se procurou defender com a lei do preço fixo). Diríamos que há aí um efeito nefasto da feira se achássemos que o arraial que grande parte das livrarias monta o ano inteiro nas suas salas fosse algo a defender contra a feira de rua e em regime de festa popular.

Entre o arraial que não ousa dizer o seu nome e a feira que arranja todos os pretextos para se alongar e perder o carácter de momento sabático há uma guerra civil disfarçada de festa, onde se lançam muitos foguetes para não se ouvirem os disparos, a não ser os dos pequenos livreiros, apanhados entre dois fogos. Esta coisa do mercado dos livros afeiçoou-se primeiro ao espectáculo e já vai, como é visível, no espectáculo grotesco.»

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 29.5.2010.

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