Ao pé da letra #94 (António Guerreiro)
Sobre o fascínio de César pelo Reino de Deus | |
«Muita gente tem manifestado incómodo, por razões pragmáticas, e reprovação, por razões de princípio, com o facto de o Governo e o Presidente da República, na visita do Papa, terem suspendido algumas regras da separação entre a Igreja e o Estado, mostrando-se muito pouco firmes na laïcité – esse conceito que é, na verdade, a versão francesa do secularismo. Seria ingénuo pensar que os nossos governantes cederam a uma genuína vocação religiosa. O que os move, manifestamente, é outra coisa: o fascínio por um poder que mantém a majestade cerimonial e litúrgica; a reverência pela aclamação gloriosa que o Papa representa; a estética do poder que as democracias contemporâneas não admitem. | É nestes momentos que se torna ainda mais evidente o que alguns filósofos têm demonstrado – que os dispositivos políticos da governação moderna, sendo embora construídos com base na ordem do profano e da “religião civil” (Rousseau) e não na do Reino de Deus, situam-se no paradigma da teologia política, segundo aquele princípio enunciado por Carl Schmitt: “Todos os conceitos decisivos da moderna doutrina do Estado são conceitos teológicos secularizados”.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 8.5.2010. |
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