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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #96 (António Guerreiro)

Sobre as boas causas que se fixam numa linguagem falsa

«A luta contra a “homofobia”, com o seu dia simbólico comemorado no princípio desta semana, é uma causa justa que se serve de um péssimo discurso. A palavra ‘fobia’, de origem grega, significa um medo irracional de certos objectos e situações. Por exemplo: o medo incontrolável dos répteis ou o pânico que certas pessoas experimentam quando se encontram num espaço fechado. Cooptada pela psicologia e vulgarizada na linguagem corrente, essa palavra teve o mesmo destino de uma outra, posta ao serviço de uma ideologia pedagógica: “trauma”. Ora, aquilo que que um discurso de reivindicação fixou como “homofobia” é, antes, da ordem de preconceito, com origem em códigos sociais, culturais e religiosos muito persistentes (mas não universais nem trans-históricos).

Nos desvios a que foi submetida, até se tornar um discurso imóvel, a “homofobia” cristalizou-se como uma mitologia (no sentido que lhe deu Barthes), um fenómeno relacionado com a gregaridade. Não é que o problema seja inexistente. Mas nenhum problema verdadeiro pode ser combatido com palavras falsas; e nenhuma posição pode ser correcta politicamente se não for correcta do ponto de vista da linguagem.»

António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 22.5.2010.

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