Ao pé da letra #16 (António Guerreiro) «A oposição entre forma e conteúdo legitima o pior Burckhardt, nas suas “Considerações sobre a História Universal”, mostrou a impertinência da oposição civilização/barbárie para a análise histórica. Mais de um século depois, o seu esforço revela-se sem sucesso, e esta dicotomia segue o seu curso triunfante. Outro par ainda mais perene (pilar de uma metafísica) é o famigerado forma/conteúdo. Sob a sua caução, desenvolveram-se as estéticas dos regimes totalitários (sempre activas na repressão de todos os “formalismos”, sempre zelosas do “conteudismo”); sob a sua autoridade, esvaziou-se o discurso político. | Um programa de saneamento consistiria em invalidar qualquer raciocínio que opere com essa falsa oposição. Um dos efeitos seria o desmantelamento da chamada “indústria de conteúdos”, resultado supremo da operação manhosa que consiste em pôr de um lado o conteúdo e do outro a forma. A praga dessa indústria, baseada numa separação produtora da falsidade e do dogmatismo, acabou por invadir todos os “media”, incluindo o universo da edição livreira. O que é afinal uma “indústria de conteúdos”? É a expressão mais acabada do fascismo do entretenimento.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 20.9.2008, p. 47. [Cito aqui integralmente a coluna «Ao pé da letra» de António Guerreiro porque me parece a coisa mais inteligente que se encontra na imprensa escrita, para o que contribui a sua brevidade. Como conheço bastantes pessoas que não lhes passa sequer pela cabeça comprar aquele saco de bugigangas e folhetos publicitários disfarçado de jornal, parece-me útil, até que o autor me peça para deixar de o fazer (ou o jornal me o impeça).] |
Ainda não começámos a pensar
We have yet to start thinking
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