Ao pé da letra #75 (António Guerreiro) «Sobre os balanços como sintoma de doença histórica | |
Chegou o fim do ano e, com ele, os balanços, as listas do que, nas diversas áreas, se entende que precisa de ser salvo. O essencial é dar a impressão de que o balanço é feito num observatório de onde se tem uma visão soberana e sem falhas sobre tudo o que se passou. Estas recensões dos ‘acontecimentos’ anuais correspondem a um modo de escandir o tempo que só produz passado. A medida começou por ser o século, foi depois a época, fixou-se a seguir na década e tornou-se há pouco tempo anual. Para esta nova forma de “doença histórica” (se não é exagerada a convocação nietzschiana), a novidade já foi depositada nos arquivos e jaz inerte em listas de glórias com as quais no preparamos para entrar num novo ano que, tal como o anterior, não podemos falhar. | E assim nos entregamos a uma forma perfeita de niilismo, para a qual já não existe tempo de experiência mas apenas o tempo imediatamente revogável das novidades. O artista americano Robert Rauschenbeng reivindicou “mais tempo e menos história”. Ele tinha percebido que, nesta sucessão cada vez mais veloz de fins e recomeços, o que resta são cronologias.» |
Ainda não começámos a pensar
We have yet to start thinking
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1 comentário:
não te tenho visto, mas também pouco me vejo, ultimamente. bom ano! e olha que o Guerreiro também fez o seu balanço, de todos, o único que me interessou. Os do cinema eram miseráveis.
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