Ao pé da letra #57 (António Guerreiro) «A linguagem dos gestos é da esfera pré-política | |
Um incidente recente na Assembleia da República pôs muita gente a interrogar-se porque é que um gesto de valor indefinido na mímica codificada dos insultos causou maior escândalo do que muitas palavras – proferidas no mesmo contexto – que entram abertamente no discurso insultuoso. Para percebermos o que há de inassimilável no gesto de um político, devemos recordar a definição de Aristóteles: “O homem é um animal político, isto é, dotado de linguagem” (aqui, a palavra grega é logos, que também significa “razão”). O gesto não releva do logos, mas do pathos, advém de uma energia emotiva da esfera mágica e religiosa. | A linguagem dos gestos é pré-política, e mesmo quando é recodificada politicamente (o punho cerrado dos comunistas, a saudação nazi) guarda a memória das fórmulas do paganismo primitivo. Obama é um político que compreendeu tudo isto muito bem: quando mata uma mosca durante uma entrevista para a televisão, aponta esse seu gesto como algo não espontâneo, mas como uma interrupção voluntária do discurso político. E assim introduz um segundo grau, traduzível desta maneira: “Estou a representar um papel político, mas não coincido inteiramente com ele”.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 25.7.2009. |
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