Ao pé da letra #49 (António Guerreiro) «Há um populismo literário que se instalou na edição | |
O populismo político, nas suas manifestações ora mais discretas ora mais exacerbadas, é um fenómeno com mais de um século. Mais recentemente é um populismo literário do qual uma edição recente de Amor de Perdição (Difel) é um exemplo caricato. Da imagem da capa, que parece o cartaz de um filme de série B, até à inscrição que apresenta o livro como “uma história de amor, profunda e trágica. Um drama inesquecível”, tudo é feito para denegar ao livro a sua condição de clássico da literatura portuguesa e aproximá-lo do modelo da telenovela, de modo a torná-lo produto de consumo para um público mais vasto. | O pressuposto da ignorância e do mau gosto do público adquire aqui uma dimensão grosseira, mas o mais importante é aquilo de que é sintoma: do declínio da “esfera pública literária” – uma noção de Habermas para designar o uso público de uma razão baseada nos instrumentos da leitura. O público cindiu-se, por um lado, em minorias de especialistas que já não têm acesso à esfera pública (o espaço que antes ocupavam foi tomado pela “opinião”) e, por outro, na grande massa de consumidores de uma cultura que não promove a saída do estado de menoridade.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 30.5.2009. |
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