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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Ao pé da letra #46 (António Guerreiro)


«Há um marxismo vulgar que mudou hoje de campo

Uma das formas mais reconhecíveis de um marxismo vulgar consistiu na caricatura dos capitalistas – reproduzida também na iconografia – como indivíduos ávidos de dinheiro e moralmente execráveis. É um marxismo vulgar, porque simplifica uma análise que nunca decorreu à psicologia e evitou qualquer moralismo. A caricatura do capitalista arrogante e diabólico não pede inspiração a Marx.


Não deixa por isso de ser curioso que uma nova vulgata, difundida por quem até há bem pouco tempo ria dessa caricatura e deduzia dela a própria vulgaridade do marxismo, se tenha apropriado dos seus traços negros e tenha começado a reproduzi-la num desenho ainda mais reprovador, sob a forma do capitalista sem escrúpulos, de uma avidez desmedida, que não respeita a “ética do capitalismo” (a alusão a Max Weber fica bem, mas é enganadora). Porque é que a caricatura dá agora tanto jeito? Porque, à semelhança do marximo vulgar, há um empirismo vulgar que vê a irracionalidade e a ganância no comportamento de certos indivíduos, salvando assim o processo louco e autodestrutivo que é o próprio sistema da mercadoria, no seu funcionamento tautológico.»
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 2.5.2009.

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