Pessoas anómalas | Abnormal people
«A maior parte das suas personagens parece viver numa terra de ninguém entre a realidade e a ilusão. O que talvez explique o porquê de os objectivos que atribuem a si próprias estarem fora do seu alcance [...] KIAROSTAMI - Alguém me disse uma vez que a razão pela qual eu era atraído por estas personagens era a de elas serem todas anómalas. E eu acho que as pessoas anómalas, que se esforçam bastante e quebram as barreiras e atravessam as linhas, fazem-nos um serviço, neste sentido, ao dizerem-nos, “Os limites que definiram para nós são demasiado apertados e precisamos de mais espaço.” Devemos olhar para as pessoas anómalas do ponto de vista de um artista. Não devemos agir como num tribunal e julgá-las. Nunca deveríamos querer apresentar as suas fraquezas. Devíamos mostrá-las como exemplos de pessoas que não receberam o cuidado adequado ou atempado. Apesar de todas as leis feitas para a protecção das pessoas desprovidas, elas foram de algum modo deixadas desamparadas e começaram a usar a sua imaginação numa altura em que já não havia qualquer lugar para usar a imaginação – que então inevitavelmente se vira para si própria.» | «Most of your characters seem to be living in a no man’s land between reality and illusion. That may explain why the goals they set for themselves are out of their reach [...] KIAROSTAMI - Someone once told me the reason I was drawn to these characters was that they were all abnormal. And I think the abnormal people who go to great lengths and break the boundaries and cross the lines do us a service, in a sense, by telling us, “The limits you have set for us are too confining and we need more space.” We should look at abnormal people, that is, from an artist’s point of view. We should not act like a court and put them on trial. We should never want to display their shortcomings. We should show them as examples of people who didn’t receive proper and timely care. Despite all the laws designed for the protection of deprived people, they were somehow left uncared for and started using their imaginations at a point where there was no room left for using one’s imagination — which then will inevitably turn in on itself.» Abbas Kiarostami, in bright lights |