Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Os monitores são o controlo | Monitors are control

«Porque é que não usa monitor nas filmagens?
Christian PETZOLD - Porque assim só se dizem disparates. Porque assim não se vê o que os actores estão a fazer, vê-se apenas o que irá acontecer mais tarde na sala de montagem. Quando estou sentado na sala de montagem, em frente a uma imagem, falo dela diferentemente de quando tenho os actores à minha frente. Na sala de montagem, a imagem é o importante, já não considero o conjunto. Mas quando nas filmagens olho fixamente para o monitor, por trás do qual os actores representam, só consigo dizer “um pouco mais para a esquerda, para a direita...” A coisa morre. Os monitores são o controlo. Na sala de montagem, onde tenho dois monitores, já não se trata de controlo, mas de combinações. Apenas com uma imagem, a do monitor nas filmagens, consigo aperceber-me de que a representação dos actores não funciona, mas não o porquê disso. Estou concentrado na imagem e não na representação. Depois de filmar uma cena, a primeira coisa que faço é ir ter com os actores e perceber o que acharam. Só depois vou ter com o Hans [Fromm, director de fotografia] e lhe pergunto se ficou bem tecnicamente. De qualquer modo, a verdade obtenho-a pelo engenheiro de som, através dos auscultadores. Para a representação, penso que o som é bastante mais importante do que a imagem. Os tons das vozes dizem-me se a representação num take era uma merda ou não. Isso não se consegue ver nas imagens.»
«Why don’t you use a monitor on set?
Christian PETZOLD - Because then you talk utter rubbish. Because then you don’t watch what the actors are doing, you watch what’s going to happen in the cutting room later. When I’m sitting in front of an image in the cutting room, I talk about it differently than when I have the actors in front of me. In the cutting room, the image is important, I don’t consider the blocking anymore. But when I stare into a monitor on set – and the actors are beyond it – then I just say “a bit further to the right or left...” The whole thing dies. Monitors are control. In the cutting room, where we have two monitors, it’s not about control anymore, it’s about combinations. But with just one image, on a monitor on set, I can see that a scene between the actors isn’t working, but I can’t tell why not. I’m concentrating on the image and not on the acting. After shooting a scene, the first thing I do is to go to the actors and find out how it was for them. Only then do I go to Hans and ask whether it was technically okay. Anyway, I get the truth from the soundman, through the headset. I find that, in acting, sound is far more important than visuals. The tones of the voices tell me whether the take was crap or not. You can’t see that in the images.»
Christian Petzold, «Gespernster» Press Kit


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