Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias



Com e contra o cinema
Integral dos filmes de Guy Debord - Culturgest, Lisboa
Uma programação de Ricardo Matos Cabo

«O cinema ocupou um lugar central no pensamento e na prática de Guy Debord, na sua crítica das formas de representação e do papel social das imagens. As estratégias e modos de composição formal que caracterizam os seus filmes estão já contidos no seu primeiro gesto cinematográfico, o filme Letrista, Hurlements en faveur de Sade (1952) em que as frases ditas, “desviadas” do seu contexto original, alternadas no ecrã branco (sonoro) e preto (em silêncio), contêm já o seu projecto para uma “dialética da desvalorização / revalorização” dos diferentes elementos em jogo e da negação do cinema tal como o conhecemos. Os filmes posteriores prolongam a prática da apropriação e montagem de imagens de fontes diversas (excertos de jornais filmados, filmes publicitários, filmes de ficção, imagens de banda desenhada, fotografias), de imagens realizadas por Debord, conjugadas com os textos escritos e lidos, igualmente desviados do seu contexto original (citações, textos do próprio autor) a que se acrescenta a utilização pontual da música que serve de contraponto lírico às imagens. As imagens utilizadas constituem ao mesmo tempo documentos e artefactos, contendo de forma imanente a sua própria crítica, em comentários sobre o cinema e os géneros cinematográficos, as combinações entre a imagem e o texto, as relações pessoais e sociais, a ideologia, a luta de classes e a política e o lugar do Homem na História e no sistema espectacular que expõe e critica. Os filmes de Guy Debord intensificam aquilo que na obra do seu autor reflecte um discurso sobre o potencial revolucionário da juventude, sobre a amizade, o amor, conjugando o lirismo e as suas reflexões sobre a cidade, o urbanismo e a arquitectura, num constante olhar retrospectivo sobre o exercício do seu pensamento. As obras cinematográficas de Guy Debord estiveram praticamente invisíveis, interditadas de qualquer projecção pública pelo próprio realizador, após o assassinato do seu produtor Gérard Lebovici em 1984. Disponíveis sobretudo na sua forma escrita numa compilação de textos e imagens organizada pelo autor, os filmes de Guy Debord foram recentemente disponibilizados de novo para circulação, o que permite que possa ser exibida, neste ciclo, a sua obra integral.
Em complemento apresenta-se o filme Letrista L’Anticoncept de Gil J. Wolman, de 1952, um dos mais importantes filmes de vanguarda do pós-guerra e influência determinante para Guy Debord. O filme vai ser apresentado no seu dispositivo original, projectado num balão sonda.» -
Ricardo Matos Cabo, comissário

Guy Debord, son art et son temps
Guy Debord/Brigitte Cornand
1994, 60'
6ª, 13 de Abril, 18h30
In girum imus nocte et consumimur
igni
/ Movemo-nos na noite sem
saída e somos devorados pelo fogo

Guy Debord
1978, 105'
6ª, 13 de Abril, 21h30
L'anti-concept
Gil J. Wolman
1952, 60'
Hurlements en faveur de Sade
Guy Debord
1952, 75'
Sáb, 14 de Abril, 17h
Sur le passage de quelques personnes à travers une assez courte unité de temps
1959, 18'
Critique de la séparation
1961, 19'
La société du spectacle
1973, 80'
Réfutation de tous les jugements, tant élogieux qu'hostiles, qui ont été jusqu'ici portés sur le film «La société du spectacle»
1973, 22'
Guy Debord
Sáb, 14 de Abril, 21h30

(Outras leituras de acompanhamento: «In memoriam Guy Debord. O fim do espectáculo» de José Bragança de Miranda, 1995; «Política e arte em Guy Debord» de José Pinto, in
Interact, 13, 2007; e «Guy Debord, o cinema da não-separação» de Susana Nascimento Duarte, in Obscena, 3, 2007, pp. 46-49.)


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