Ao pé da letra #99 (António Guerreiro)
Sobre a missão de uma editora e dos seus rapazes | |
«“Missão: reconstruir uma literatura nacional”: a pessoa que vale por uma literatura inteira e está à altura de tão grandiosa tarefa foi encontrada pelo Público (numa entrevista com o título citado), é editora e chama-se Maria do Rosário Pedreira. A entrevistada não só reivindica tal missão mas também dá a sua caução a esta admirável ideologia dos agentes de difusão, promotores, pedagogos, curadores e editores como produtores. E, embalada pelo deslumbramento acrítico da jornalista (Raquel Ribeiro), desliza para os gestos de tutora, quando diz que alguns escritores deveriam ter tido um editor que lhes dissesse: “Precisou de escrever isto, fez-lhe bem, agora guarde outra vez na gavetinha”. | Certamente que já muito escritores ouviram algo semelhante, só que não neste tom infantilizante. Depois da infantilização dos leitores, eis chegada a infantilização dos escritores não emancipados de um génio tutelar. Sintonizada com esta felicidade pedagógica, a jornalista faz uma pergunta sobre as “descobertas” da editora. “E por que razão são todos rapazes?” Os “rapazes” são três – José Luís Peixoto, valter hugo mãe e João Tordo – e arriscam-se a tornar-se uma espécie de pacote editorial.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 12.6.2010. |
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