Ao pé da letra #98 (António Guerreiro)
Sobre o dinheiro e as suas manifestações abstractas | |
«Por mais de um século permaneceu válida a afirmação de Hegel: “A leitura do jornal é a oração matinal do homem moderno”. O homem de hoje cumpre a sua oração matinal informando-se sobre os movimentos da Bolsa. É aí que está agora sediado o centro meteorológico para a captação do fim do mundo (que, no seu tempo, Karl Kraus disse que era Viena). Em pouco tempo, todos fomos iniciados nessa matéria esotérica, antes reservada a especialistas. Ficámos assim a perceber que o dinheiro enquanto sistema mundial é algo muito mais abstracto que a fenomenologia do espírito. | Das suas argúcias metafísicas sabiam os leigos pouco até ao momento em que perceberam que os euros que tinham no bolso estavam ‘indexados’ a factores com nomes estranhos, que atingem o seu mais alto grau de abstracção quando se tornam irradiações de um estratosférico Banco Central. O sociólogo Georg Simmel estudou, há um século, os efeitos da monetarização universal das relações sociais sobre a liberdade e a cultura. A esse estudo monumental, para onde converge a tese, já antes formulada, de que “a máquina se intelectualizou mais do que o operário” chamou A Filosofia do Dinheiro.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 5.6.2010. |
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