Ao pé da letra #90 (António Guerreiro)
Sobre o ‘psi’ de emergência e seus derivados | |
«O “acompanhamento psicológico” é uma das grandes figuras terapêuticas do nosso tempo. Consiste na assistência a pessoas que sofreram um choque profundo e que, por isso, têm dificuldade em lidar com o real e iniciar o trabalho de luto. Freud chamou aos psicanalistas “curadores de almas”, mas nunca os imaginou em missões de emergência. Mais eficazes a curar almas do que os ‘psi’ de todas as espécies e credos foram sempre os funcionários habilitados da máquina religiosa. É difícil perceber como é que as terapêuticas psicológicas, no seu tempo lento de análise e de actuação, podem dar respostas imediatas, a não ser aproximando-se de outra coisa que nada tem a ver com a ciência e a racionalidade. | Este tipo de desvios são hoje comuns, como se pode ver pela difusão, em muitos países, do chamado aconselhamento filosófico. Trata-se de fazer da filosofia um instrumento cultural para enfrentar o sofrimento (livro de divulgação desta técnica de cura: Platão É Melhor do que Prozac). O filósofo ainda não assiste a situações de emergência, mas lá chegará, sem o empecilho de Nietzsche: “Se a felicidade fosse verdadeiramente desejável, o idiota seria o exemplar mais belo da humanidade”.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 10.4.2010. |
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