Ao pé da letra #65 (António Guerreiro) «Acerca das profecias que se auto-realizam | |
Agastado pelas abundantes citações que os jornais fizeram de uma nota no seu blogue sobre o silêncio do Presidente, Pacheco Pereira escreveu a seguir sobre a “operação Diário de Notícias”, terminado com uma predição: “Sempre quero ver se esta nota é citada.”. Cumpriu-se a profecia formulada de modo dubitativo, e a nota nunca foi citada. Pacheco Pereira tinha razão? Sim, na medida em que a sua profecia trazia, em si mesma, a razão que a confirma. Ela é necessariamente verdadeira porque tem o efeito de realizar o que enuncia. E alguém que viesse a citar a nota cairia fatalmente na armadilha que ela constrói: a sua citação teria sempre o sentido de um acto cometido para falsear o que é verdade desde o início, como aquelas cartas dos leitores que começam por dizer: “Estou seguro de que o jornal não terá a coragem de publicar esta minha carta.” | Trata-se, no enunciado profético de Pacheco Pereira, daquilo a que um sociólogo americano chamou “self-fulfilling prophecy”, da profecia que se auto-realiza. A estrutura deste tipo de profecia é comum a dois tipos de discurso: o discurso do paranóico e o discurso dos totalitarismos políticos.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 9.10.2009. |
Ainda não começámos a pensar
We have yet to start thinking
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