Notas demasiado soltas: Meta-nota
[Ao contrário do que seria desejável, é notório que exerço cada vez menos qualquer espécie de controlo sobre os inevitáveis produtos da minha cabeça. Como já indicava Thomas Bernhard, tal procedimento configura uma terapêutica. Não parece haver outra. Quanto mais parvoíces (das minhas, atenção) escrevo, mais me sinto saudável. Por isso, é provável que hajam bastantes desencontros entre as minhas parvoíces e a vossa leitura. O contrário é que seria de espantar. Vocês têm as vossas (verdadeiras) parvoíces para cuidar, têm lá tempo e cabeça para as (verdadeiras) parvoices dos outros. No espinhoso e dificultoso campo do humor, é sabido que os gostos são por demais divergentes. Mesmo ao nível do seu simples entendimento, na ausência de letreiros, são enormes os equívocos e as sobreleituras. Vejamos nestas «notas soltas, demasiado soltas». Quanto de vós não tomaram como um ataque mais ao menos velado aos direitos adquiridos dos gays aquele exercício de estilo em que me empenhava por intricar ao máximo uma minha muito imaginária retórica sociológica-tecnocrática? Quantos acreditaram que realmente um blogue como este recebe algum correio de leitores, por amor de Deus? Quem pernoitou na fina camada que separa a especulação sobre os meandros da zoofília da acusação estrita, porventura possível, eu sei lá, de que todas as pessoas que têm animais de estimação são zoófilas? Ah, para mais está tudo ao molho, não é? Não há uma personagezinha que indique o caminho do sentido de humor. Pois, mas as personagezinhas a mim põem-me doente, indo contra a terapêutica, o que é pior. Assim, cada texto pode estar armadilhado, não vou dizer onde é que é para rir. Talvez vocês achem piada a outras matérias sobre as quais não sou versado. Façam vocês as vossas personagens que fodam as vossas terapêuticas.] |