Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Não precisar de sensações


«Este filme evidencia o duplo aspecto da montagem que normalmente não se nota na maior parte dos filmes:
– A montagem de proximidade: os raccords entre dois planos sucessivos. Aqui, os raccords são muitas vezes muito abruptos e violentamente heterogéneos. Rossellini passa por vezes de 16mm para 35mm, de uma película para outra, do dia para a noite, etc.
– A montagem à distância: muitas vezes, aqui, dois planos muito afastados no filme, pertencendo a episódios diferentes, relacionam-se na forma e no sentido, respondendo um ao outro, rimando à distância.
O tigre e o homem
No terceiro episódio de India, o homem e o tigre (filmados em suportes diferentes) ocupam espaços e planos diferentes. Estas cenas contrariam a famosa teoria da “montagem proibida” que Bazin formulou num texto mais ou menos contemporâneo de India: “Quando o essencial de um acontecimento depende de uma presença simultânea de dois ou mais factores da acção, a montagem é proibida. (...) Seria inconcebível que a famosa caça à foca de Nanouk não nos mostrasse, no mesmo plano, o caçador, o buraco e depois a foca.” Numa entrevista nos Cahiers du cinéma, Rossellini justificava-se da seguinte maneira: “Se se trata de criar uma sensação, é evidente que a sensação será mais forte se mostrarmos o tigre e o homem ao mesmo tempo. Mas a minha história não precisa de sensações.”»
AAVV, «Aberturas», O olhar de Ulisses 3: A utopia do real, Porto 2001-Cinemateca Portuguesa, pp. 117-118 (orig. in India – Rossellini et les animaux, Cinémathèque Française, 1997)

India: Matri Bhumi (Roberto Rossellini) 1957, 95'
3ª, dia 5, 19h30 - Cinemateca

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