Tal como aqui
«A exposição termina com um excerto do filme de Walt Disney, “Branca de Neve e os Sete Anões”, memória de infância por si associada a uma ideia de terror...
A ideia de animação era horrífica, quando vi este filme, e há mais gente que sente o mesmo. O facto de ter visto um desenho com tal perfeição no movimento foi algo de horrífico, porque passou a ser uma possibilidade um mundo animado, irreal, mas tão perfeito que se tornava assustador. Foi por isso que escolhi mostrar “Branca de Neve e os Sete Anões”: a primeira longa-metragem de animação, realizada em 1937, e um dos filmes preferidos de Adolf Hitler, que o via sem som, tal como é exibido aqui [Museu de Serralves].»
Luc Tuymans, sobre a exposição “Dusk/Penumbra” em Serralves, entrevistado por Óscar Faria, Público-Mil Folhas, 30.9.2006
A ideia de animação era horrífica, quando vi este filme, e há mais gente que sente o mesmo. O facto de ter visto um desenho com tal perfeição no movimento foi algo de horrífico, porque passou a ser uma possibilidade um mundo animado, irreal, mas tão perfeito que se tornava assustador. Foi por isso que escolhi mostrar “Branca de Neve e os Sete Anões”: a primeira longa-metragem de animação, realizada em 1937, e um dos filmes preferidos de Adolf Hitler, que o via sem som, tal como é exibido aqui [Museu de Serralves].»
Luc Tuymans, sobre a exposição “Dusk/Penumbra” em Serralves, entrevistado por Óscar Faria, Público-Mil Folhas, 30.9.2006
O relevante desta citação, a meu ver, centra-se na descrição clara do procedimento de transplantação de sentido: o "tal como aqui", a que se refere Tuymans. O próprio facto de Adolf Hitler ter visto Branca de Neve e os Sete Anões sem som constitui a única razão de ser da apresentação do filme desta forma. O sentido desta sua apresentação é pois verdadeiramente definido pelo "transplante" daquela experiência para um outro "aqui". O espaço destes "aqui", destinado a receber este tipo de transplantes, chama-se "museu".
4 comentários:
Tudo certo, desde que se assuma que Walt Disney empobreceu o conteúdo mítico dos contos de fada.
Um problema de fazer, não da origem.
caro pedro, obrigado pelo comentário... o problema é que não percebo nada de conteúdos míticos, dos contos de fadas ainda menos.
André, acho que tens razão quanto à razão de ser desta projecção. Quando chegamos ao fim da exposição — e é preciso percorrê-la lentamente (e dolorosamente?) — e entramos na sala escura e vemos a projecção do filme sem som, percebemos muito bem o seu sentido terrível. Não é um simples conto de fadas, nem sequer um conto de fadas animado, (horrivelmente perfeito e irreal), é algo mais... a identificação com Adolf Hitler (que o via sem som, tal como é exibido aqui ) é intolerável... marca o filme e transforma a nossa forma de o ver.
(lembrei-me entretanto que a "Branca de Neve" de Walt Disney também aparece na Histoire(s) du cinema, mas isso tu deves saber melhor do que eu)
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