Ao pé da letra #88 (António Guerreiro)
Sobre a relação da classe e da multidão com os líderes | |
«Há uma dramaturgia passional na eleição e na destituição dos líderes do PSD que não se verifica em nenhum outro partido. Podemos ver aí uma prova de que se trata de um partido formado por uma multidão informe, sem o princípio unificador da ideologia e da classe. Aquilo que une a classe é a solidariedade (no sentido que a palavra tem no discurso político de esquerda e não no sentido humanista ou cristão): e o que a define é a ‘consciência de classe’, o que significa a consciência da sua situação histórica e não da sua psicologia. Já relativamente às massas, podemos fazer apelo à psicologia, contando, aliás, com a caução de um clássico da psicologia social: Gustave Le Bon. | As massas que alimentaram os fascismos, e que estes manipularam, têm necessidade de um chefe, de um líder, que, na sua expressão última e extrema, é um Führer. O líder de que a multidão partidária do PSD anda sempre à procura não se confunde com o líder grotesco dos fascismos. Não só porque o ‘povo’ do PSD não é o ‘povo’ dos fascismos mas também porque a influência, a relação entre a massa e o seu líder é agora recíproca. E este líder deve submeter-se à máquina partidária como uma presa.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 27.3.2010. |