Ao pé da letra #63 (António Guerreiro) «Não só a crítica faz a consagração de um escritor | |
“Os críticos literários portugueses não me aceitam na confraria dos escritores”, disse Miguel Sousa Tavares no lançamento do seu último livro, no Brasil (segundo o Público). Esta suposição da crítica literária como guarda territorial não é válida, nem sequer para o tempo em que a instituição crítica tinha a força que não tem hoje. A consagração de um escritor depende mais da aceitação pelos seus pares do que do juízo dos críticos. Na verdade, são os outros escritores que em última instância outorgam as cartas de nobreza. Não é necessário (nem conveniente) a unanimidade dos pares, mas é indispensável a sanção de um sector importante da “confraria”. Faz parte da lógica do campo literário. | Tal como faz parte das suas regras, como mostrou o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o facto de o sucesso do escritor quanto ao número de vendas corresponder geralmente a uma perda no terreno simbólico. É certo que esta regra, a que Flaubert deu um valor absoluto quando afirmou que “les honneurs déshonorent”, não tem hoje a mesma validade. Mas por mais voltas que o mundo da literatura e da arte tenha dado, ela não foi completamente revogada.» António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Actual, 26.9.2009. |
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