Ao pé da letra #43 (António Guerreiro) «Os prémios literários tornaram-se uma caricatura A cerimónia de entrega do Prémio Leya teve o alto patrocínio do Presidente da República. Tal caução está no lugar de uma falta: a da instituição literária que legitime, consagre e assegure a existência pública do prémio. Projectados para um exterior que nada tem a ver com a literatura ou sujeitos às composições dos grupos e às afinidades tácticas e estratégicas que se criam no interior da “vida literária”, os prémios tornaram-se o episódio mais degradante do território sem autonomia a que outrora se chamava República das Letras. | A questão, hoje, já não é a de os prémios serem justos ou injustos (foi ainda nesses termos que Musil se referiu a eles e fez a caricatura do Grande Escritor), mas a de já nem se saber quem os outorga, o que eles visam e a que público (dos leitores?, dos consumidores?) é dirigida a publicidade a que os prémios aspiram. Há um longo capítulo da sociologia da literatura contemporânea que deve ser dedicado à progressiva deslegitimação dos prémios, o que levou, aliás, a uma situação frequente: o júri de hoje será o premiado de amanhã e vice-versa. Não se trata de ‘corrupção’: é a lei do estreitamento do Universo.» António Guerreiro, «Ao pé da letra»,Expresso-Actual, 10.4.2009. |
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