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 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias




Cinema Quinta 12, Sexta 13, Sábado 14 e Domingo 15 de Março de 2009
Pequeno Auditório · 3,5 Euros (Preço único)


A crueldade depois do teatro Os filmes de Angela Schanelec

Programação: André Dias




Angela Schanelec em De Tarde



Filmes legendados em português

Classificação: M/12

Informações e reservas
21 790 51 55

culturgest.bilheteira@cgd.pt



Angela Schanelec é a voz mais singular do cinema alemão contemporâneo. Nascida em 1962 na Alemanha ocidental, estudou representação em Hamburgo e foi actriz em vários grupos de teatro importantes, como a Schaubühne de Berlim, até 1991. Desagradada com o modo de representação praticado, abandonou os palcos para voltar a estudar numa academia de cinema em Berlim - a dffb. Desde 1995, Schanelec escreveu e realizou as cinco longas metragens de ficção, exibidas nos festivais de Cannes, Veneza e Berlim, que compõem esta retrospectiva integral.
O cinema de Angela Schanelec define-se por uma atenção particular ao quotidiano das pessoas, em particular àqueles momentos em que elas reflectem sobre a sua vida. Não é, portanto, um cinema do mutismo. No seio de relações amorosas e familiares difíceis, as personagens lutam com as palavras, expondo-se constantemente aos limites do que conseguem expressar. Talvez por isso raie a crueldade, se a entendermos como algo que não tem por fim magoar, mas que se esforça por fazer emergir a verdade. Numa sociedade que selecciona de forma tão descarada os seus "momentos da verdade", Schanelec acolhe outros momentos plenos de subtileza e segredo, que são o oposto da confissão pública e da falsa familiaridade com a verdade.
Muito belos plasticamente, de um cuidado extremo com a luz natural, fruto da duradoura parceria com o director de fotografia Reinhold Vorschneider, estes filmes têm também o seu quê de autobiográfico e mesmo de feminista. Neles, mulheres emancipadas buscam uma vida com sentido. Mas tal nasce de dentro, da intimidade, sem um discurso social que o justifique. De resto, é abstraindo desse ambiente social, que daria as respostas em vez das pessoas, que estes filmes oferecem uma experiência emocional tão forte.
A realizadora, a quem foi dada igualmente uma carta branca para uma sessão, estará presente para orientar um workshop e partilhar das impressões dos espectadores.


Quinta 12, 21h30
A Sorte da Minha Irmã
Das Glück meiner Schwester, 1995, 35mm, 81'
Ao começo da noite, à saída de um parque da cidade, Ariane conversa com Christian enquanto aguardam pelo autocarro. Ariane receia ser deixada por ele, que se apaixonou pela sua irmã Isabel... Com a própria Angela Schanelec como Isabel, esta sua primeira longa metragem centra-se na passagem do tempo sobre um doloroso triângulo amoroso. Um filme também sobre o efeito do ruído urbano nas relações afectivas.

Sexta 13, 18h30
Primeiros filmes
Bela Cor Amarela / Schöne gelbe Farbe, 1991, 16mm, 5' ; Muito Longe / Weit entfernt, 1992, 16mm, pb, 9'; Praga, Março 92' / Prag. März 92, 1992, 16mm, 14'; Passei o Verão em Berlim / Ich bin den Sommer über in Berlin geblieben, 1993, 35mm, 49'
Realizadas no contexto escolar da dffb, estas primeiras curtas metragens, de natureza mais experimental, mostram a importância que o texto e a indagação dos lugares na cidade adquirirão na obra de Schanelec. Já a média metragem Passei o Verão em Berlim, que acompanha o percurso paralelo e acidentado de uma escritora e de um editor até ao seu encontro de final surpreendente, é uma obra portentosa em sim mesma. Matriz de tudo o que estava para vir, não deixava dúvida alguma acerca da singularidade do seu gesto cinematográfico.
A realizadora falará no início da sessão sobre as suas influências e o seu percurso.

Sexta 13, 21h30
Lugares nas Cidades
Plätze in Städten, 1998, 35mm, 117'
Mimmi, jovem de amores incertos e relação difícil com a mãe, termina o liceu. Durante uma excursão a Paris, conhece um rapaz e passa a noite com ele. Ao voltar à Alemanha descobre que está grávida. Volta para Paris, onde hesita longamente sobre o que fazer. Admirado por muitos como o melhor filme de Schanelec, é certamente um dos mais sinceramente bressonianos de todo o cinema contemporâneo. É também o que menos investe na palavra para expressar as hesitações das personagens.

Sábado 14, 18h30
Carta branca a Angela Schanelec
Rainha de ouros / Queen of diamonds de Nina Menkes, 1991, 35mm, 77'
Revelou-se deveras surpreendente a escolha de Schanelec para a apresentação de um filme de outro autor. Em vez de uma influência reconhecível, uma realizadora sua contemporânea. Este filme da independente americana Nina Menkes, completamente desconhecida em Portugal apesar de um certo culto de que goza nos Estados Unidos, centra-se na vida alienada de uma empregada de casino em Las Vegas. Foi comparado por um crítico dos Cahiers du Cinéma a Jeanne Dielman de Chantal Akerman.

Sábado 14, 21h30
De Tarde
Nachmittag, 2007, 35mm, 97'
Um retrato de família e de pessoas aprisionadas em si próprias nas tardes de Verão de uma casa de lago. Entre a beleza lancinante da imagem e da representação e a crueldade que nelas se inscreve, a obra mais recente e extrema de Schanelec é uma adaptação livre d'A gaivota de Tchékhov.
A realizadora falará no início da sessão sobre os seus projectos e filmes mais recentes.

Domingo 15, 18h30
A Minha Vida Lenta
Mein langsames Leben, 2001, 35mm, 85'
Duas jovens mulheres sentadas num café, uma família que chega ao aeroporto, uma mulher mais velha sentada sozinha num comboio, crianças adultas à espera em frente do hospital onde o seu pai está a morrer. Situações encontradas todos os dias, vezes sem conta. Uma tentativa de observar a vida de fora, em que a dispersão e a passagem entre personagens diferentes não impedem que se sinta a subtileza do que cada uma delas vive.

Domingo 15, 21h30
Marselha
Marseille, 2004, 35mm, 95'
Sophie, uma jovem fotógrafa, passa uma temporada em Marselha, atenta à cidade e aberta aos encontros simples. Quando retorna a Berlim fica imediatamente submersa pela sua antiga vida, pela sua paixão pelo marido da melhor amiga, uma actriz desesperada pela falta de talento. Sophie volta a Marselha... Um filme muito belo e com uma estrutura narrativa absolutamente invulgar e audaz.









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