Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Histeria anti-tecnológica e humanolatria | Anti-technological hysteria and humanolatry

«A histeria anti-tecnológica que segura partes substanciais do mundo ocidental entre as suas garras é um produto da decomposição da metafísica, pois agarra-se a falsas classificações do ser de modo a revoltar-se contra processos através dos quais estas classificações são ultrapassadas. É reaccionária no sentido essencial da palavra, porque expressa o ressentimento da bivalência ultrapassada por contraste com a polivalência que não consegue compreeender. Isto aplica-se sobretudo aos hábitos da crítica do poder, que são ainda inconscientemente inspirados pela metafísica. No esquema metafísico, a divisão do ser em sujeito e objecto é espelhada na diferença entre senhor e escravo, tal como na de trabalhador e material. Assim, dentro desta disposição, a crítica do poder pode apenas ser articulada como resistência do lado-objecto-escravo-material suprimido contra o lado-sujeito-senhor-trabalhador. Mas dado que a afirmação "existe informação", ou "existem sistemas", está no poder, esta oposição já não faz sentido, e está a desenvolver-se cada vez mais num simulacro de conflito. Esta histeria é efectivamente a procura de um senhor contra o qual se levantar: não pode ser excluído que o senhor enquanto efeito esteja em processo de dissolução, e mais do que qualquer outra coisa sobreviva enaquanto o postulado do escravo fixado na rebelião - como Esquerda historicizada ou um humanismo pronto para o museu. Por contraste, um princípio vivo da ala esquerda necessitaria de se reinventar constantemente através de dissidência criativa. Do mesmo modo, o pensamento do homo humanos pode apenas manter-se em resistência poética contra os reflexos metafísicos da humanolatria.»


A técnica na sua relação com o humano
Conferência de Peter Sloterdijk
5ª, 3 de Maio, 21h30
Serralves, Porto
The anti-technological hysteria that holds large parts of the western world in its grip is a product of the decomposition of metaphysics, for it clings to false classifications of being in order to revolt against processes in which these classifications are overcome. It is reactionary in the essential sense of the word, because it expresses the ressentiment of outdated bivalence as contrasted with a polyvalence that it cannot understand. This applies above all to the habits of the critique of power, which are still unconsciously motivated by metaphysics. In the metaphysical schema, the division of being into subject and object is mirrored in the difference between master and slave, as well as that between worker and material. Thus within this disposition, critique of power can only be articulated as resistance of the suppressed object-slave-material-side against the subject-master-worker-side. But since the statement "there is information", alias "there are systems," is in power, this opposition no longer makes sense, and is developing ever more into a phantom of conflict. This hysteria is indeed the search for a master to stand up against: it cannot be excluded that the master as an effect is in the process of dissolving, and more than anything else lives on as the postulate of the slave fixated on rebellion - as the historicized Left or a humanism that is ready for the museum. In contrast a living left-wing principle would need to constantly reinvent itself through creative dissidence. Likewise, the thought of homo humanus can only maintain itself in poetic resistance against metaphysical reflexes of humanolatry.»

Peter Sloterdijk, «The Operable Man. On the Ethical State of Gene Technology», translated by Joel Westerdale and Günter Sautter


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