Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias

Propriedade | Property

E se no suicídio que se deram tantos sobreviventes dos campos não encontrássemos uma qualquer angústia existencial do ser-para-a-morte em acção extremada, mas antes uma tentativa derradeira de reapropriação da propriedade da morte, se uma tal coisa pode existir, em gesto de estranha soberania, em si quase alegre, e que constitui talvez a mais terrível, insuficiente, única resposta à morte de que inúmeros foram expropriados (de que Primo Levi dizia nem sequer se poder chamar propriamente de morte, mas, como indica Agamben, simples fabricação de cadáveres), como o da subtil personagem d’Os emigrantes de Sebald que acabava nos caminhos-de-ferro?
What if one would not find, in the suicide a lot of camps survivors committed, some extreme action of existential anguish of being-towards-death, but one last attempt of re-appropriation of death’s property, if one such thing can exist, in a gesture of strange sovereignty, in itself of almost joy, and that perhaps constitutes the most terrible, insufficient, unique reply to the death innumerable were expropriated (and that Primo Levi said it could not even be properly called death, but, as Agamben indicates, a simple corpse manufacture), as the one from Sebald’s subtle character in The emigrants that ended in the railroads?


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