Já não estamos habituados a ler | We’re not used to read anymore

« Se Straub foi e é único, isso terá mais a ver, pensamos, com a sua extrema secura e com a sua extrema rarefacção de processos, combinadas com a extrema atenção à materialidade das imagens e dos sons (o que não é forçosamente o mesmo que “materialismo”), reabilitando os mais pequenos detalhes da presença, que o cinema de “acção” desperdiça. Ou seja, uma procura do despojamento último, limpando a imagem e o som dos excessos e dos efeitos do cinema mainstream, tentando fazer com que apenas fiquem gravadas as pequenas coisas que “já não estamos habituados a ler”, por termos aprendido a “ler” demasiado. O que fica na banda imagem e na banda som não tem assim a força de nos engolir na voragem dum fluxo narrativo, antes nos dá espaço e tempo para o nosso lugar, separado do ecrã. » José Manuel Costa, Folha da Cinemateca Portuguesa de Nicht versöhnt oder Es hilft nur Gewalt, wo Gewalt herrscht | Não reconciliados ou Só a violência ajuda onde a violência reina (1965) de Jean-Marie Straub

« If Straub was and is unique, we think this has more to do with his extreme dryness and his extreme rarefaction of processes, combined with the extreme attention to the images and sounds materiality (which is not necessarily the same as “materialism”), rehabilitating the smallest details of presence that “action” cinema wastes. That is, a search for the ultimate detachment, cleaning the image and sound of the excesses and effects of mainstream cinema, trying to keep recorded only the smallest things “we’re not used to read anymore”, for having learnt to “read” too much. What stays in the image and sound tracks doesn’t have thus the strength to swallow us in a whirlpool of narrative flux, giving us instead space and time for our place, separated from the screen. » José Manuel Costa, Cinemateca Portuguesa’s screening sheet for Nicht versöhnt oder Es hilft nur Gewalt, wo Gewalt herrscht | Not reconciled or Only violence helps where violence rules (1965) de Jean-Marie Straub