Ao pé da letra #126 (António Guerreiro)
Sobre a diferença entre revolta e revolução, no momento em que as duas palavras encontram atualização | |
As palavras ‘revolta’ e ‘revolução’ têm sido usadas indistintamente para descrever o que se está a passar em alguns países árabes. Deve-se a um grande germanista e mitólogo italiano, Furio Jesi, ter definido com precisão, num livro sobre Rosa Luxemburg e o movimento spartakista, o campo de referência de cada uma dessas palavras. Segundo ele, a diferença entre revolta e revolução não reside no objetivo (que pode ser, em ambos os caso, apoderar-se do poder) mas numa diferente experiência do tempo. Enquanto a revolta é a emergência repentina de uma insurreição, não implicando, em si, uma estratégia de longa distância, a revolução é um complexo estratégio de movimentos insurrecionais orientados para objetivos finais. Assim, a revolta é aquilo que suspende o tempo histórico e instaura um tempo em que tudo o que se realiza vale por si, independentemente das suas consequências. | Já a palavra ‘revolução’ designa todo o complexo de ações realizadas por quem quer mudar no tempo histórico uma situação política, social, económica, elaborando os seus planos táticos e estratégicos num tempo que se mede em duração e em termos de causas e efeitos. A ‘revolta’, pelo contrário, pode ser descrita como uma suspensão do tempo histórico: quem participa numa revolta não sabe nem pode prever as consequências. O conceito de revolução permanente, mostra Jesi, revela a vontade de poder em cada momento suspender o tempo histórico para encontrar refúgio coletivo no espaço simbólico da revolta. Munidos desta distinção entre revolta e revolução, e olhando para o o que se está a passar, devemos ler os textos que Foucault escreveu em 1978-79 sobre a “revolução iraniana”, que ele acompanhou euforicamente. António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Atual, Portugal, 5.2.2011. |
1 comentário:
Interessante a distinção entre revolta e revolução apontade. Neste momento estou entretido com Camus e suas idéias sobre o absurdo e revolta. Vejo na sua nota a conotação política dos termos, em Camus esses termos são usados tambem do lado da pessoa que diante do absurdo se revolta. Estou procurando estabelecer as relações entre a vontade de potencia de Nietzsche e a revolta de Camus. A revolta é a reação de quem quer restabelecer sua potência (como possibilidade) de sobreviver. Os termos revolta e revolução representam as formas de de reagir a uma situação absurda.
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