Ainda não começámos a pensar
                                               We have yet to start thinking
 Cinema e pensamento | On cinema and thought                                                                              @ André Dias


Shoah (1985) de Claude Lanzmann /Figuras da autópsia #4
Sáb, dia 8, 15h30 1ª época: 149’+117’ / 21h 2ª época: 142’+142’ - Cinemateca [sala pequena]

Vinte e um anos depois da sua passagem na televisão (RTP), doze anos depois da sua última projecção na Cinemateca no âmbito do ciclo «Cinema e real», é possível voltar a ver, na sua integralidade, o monumento cinematográfico que é SHOAH de Claude Lanzmann. Trata-se de um longo filme documentário sobre o extermínio dos judeus pelos nazis, baseado nas imagens contemporâneas dos lugares do extermínio e nos testemunhos orais de sobreviventes, em particular dos chamados Sonderkommando, «grupos especiais» de judeus encarregues da aniquilação de outros judeus nos fornos crematórios.
Neste hiato temporal, houve toda uma geração de cinéfilos e interessados, na qual me incluo, que ficou limitada ao desconhecimento, ao ouvir falar, ou, mais recentemente, à edição em dvd estrangeira. Recentemente, tornou-se clara a necessidade de o voltar a projectar. Por ocasião da comemoração dos sessenta anos da libertação de Auschwitz, num debate na livraria Buchholz em Lisboa, os intervenientes pareciam obrigados a passar pela menção ao filme, que gerou muita e interessante literatura teórica e polémica, mas não integravam na sua reflexão o terem-no visto.
Essa visão não pode de todo ser considerada acessória. Tanto mais que, tratando-se apenas de um filme, é também uma experiencia de vida inesquecível. Paradoxalmente, é também uma experiência a que apenas uns quarenta e sete happy few terão direito neste próximo sábado.

P.S.: Não há, repito, não há cinquenta pessoas em Lisboa e arredores para (re)ver SHOAH. A Cinemateca tinha portanto mais do que razão para o programar na sua sala pequena. E a imprensa para sobranceiramente desprezar a sua passagem (bem como ao ciclo). Começaram quarenta e três espectadores às 15h30 e, já depois das 2h da madrugada, restavam apenas dezasseis espectadores.


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